domingo, 23 de outubro de 2011

fim de domingo

Noite vai, noite vai.


Começo três filmes, não termino nenhum. Do livro mais incrível que já me deparei na minha vida, o jogo da amarelinha, não consigo ler mais do que dois microcapítulos. Nem o Corto Maltese, que veio de barco e chapéu dar a honra da visita, eu consigo ler direito. Escrevo uma meia dúzia de palavras que nem faço questão de salvar, desenho três ou quatro zumbis pra o meu nanquim eu gastar e pronto, passou mais um domingo que veio provar que não consigo mais prestar atenção em nada.

Sabe, eu tô pouco me importando se o que eu tenho é um transtorno de déficit de atenção, ou um taquipsiquismo, ou é pura frescura, sei lá. Eu só queria conseguir fazer uma coisa e fazer bem feito. Conseguir ler uma página inteira sem ter a impressão de que eu não li nada.  Estar ali, naquele momento, seja ele qual for. Mas não. Maldito, estou sempre abstraindo as coisas, construindo o futuro do pretérito das orações causais e aí quando alguém grita ritalina, só o que eu consigo pensar é na ruivinha dos mutantes. Não, não, não é a Jean Grey, é a Rita Lee.

Ahn, falando em remédios, um dos filmes que eu tentei assistir é o ''sem limites'', um filme sobre um escritor de merda que começa a usar um fármaco clandestino que aumenta a capacidade intelectual do sujeito e, consequentemente, o faz ficar podre de rico, vender muitos livros, ser admirado por todos e amado pelas mulheres. Até a parte que eu vi, como todos sabemos, tudo tem um preço e os vilões farmacêuticos caçam o sujeito e tentam matá-lo e blá, blá, blá. Desliguei.

É que aprendi uma coisa com o Pound, que com certeza me tornou um sujeito mais chato: se conhecermos certos clássicos, depois fica fácil descobrirmos os diluidores. Saca? Esse filme, e mais um milhão de filmes e livros que tem esse enrredozinho aí, nada mais são do que fracas releituras do Fausto, do Goethe, onde o sujeito vende a alma ao diabo, curte a vida e depois se fode, porque o diabo sempre vem cobrar.

Existe uma chance do próprio Fausto ser uma releitura de alguma lenda Alemã que não me lembro. Mas não importa, tenho fé que se o Goethe também estiver tentando me enganar, o diabo irá cobrá-lo.

No Mandarim, de Eça de Queiroz, o demônio foi cobrar. O cramunhão também foi cobrar o Motoqueiro Fantasma. Até o pobre Robert Johnson, que salvou nossas vidas, o diabo veio cobrar.

Nunca aconteceu comigo, mas acredito que quando o diabo vem nos cobrar, bem, não há nada a se fazer.

E agora que o papo chegou numa encruzilhada, separamos-nos.
Até.

2 comentários:

  1. Cara, que legal! Só tô com medo de o diabo chagar agora para me cobrar, dizendo que eu sou fã do Leo Yang, pois o diabo é a coisa mais burra que conheço e olha que BURRO, etimologicamente significa vermelho. Então tá explicado.
    Parabéns, Leo. Continue escrevendo essas coisas inteligentes e esteticamente agradáveis.
    Do amigo Feijó, que em breve irá a Campinas.

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  2. Nunca pensei muito nessas coisas, me formei em história e tenho poucos livros completos por leitura. Amo desenhar tambem, mas não tenho paciência para fazer uma sequência. Acho que o dia é curto demais para ficar centrado em uma coisa só.
    Quanto ao Diabo, é como ditado das bruxas, eu não acredito nele, mas que existe, existe e eu não pretendo ficar devendo nada a ele, haha.

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