quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

quarta

Nunca gostei de indivíduos que se deixam dissolver num coletivo, seja ele qual for, um time de futebol, uma chapa de grêmio estudantil, um partido político, uma seita, enfim, uma instituição.
Acho estúpida essa transferência de responsabilidades, esse ridículo agir em nome de.
Se é que somos livres mesmos, o eterno preço a ser pago por essa liberdade é a necessidade de, a todo momento, tomar decisões e fazer escolhas, que atualizam nossa existência.
Os constantes abusos dos policias através da força são um problemas e responsabilidades equânimes para todas as partes, sejam os generais, que ordenam distantes, os policiais que obedecem, e nós, que sabemos o que se passa e não nos mobilizamos, de forma a não cumprirmos em nada nossa cidadania.
Sou otimista a ponto de acreditar que, tanto por parte dos policias estúpidos, quanto por parte da nossa vegetabilidade mórbida, o que se passa é também um problema de formação, e não só um problema de caráter, como o dos engravatados.
Só não consigo entender essa abdicação de valores pessoais, que todos tanto se orgulham em ter, em favor de leis que não favorecem o coletivo, pelo simples fato de serem leis.
Essa obediência civil está chegando a níveis preocupantes e não está sendo uma via de mão dupla, já que a população em geral vive num terror cada vez maior. Hoje eu subi no sol das duas um puta morro del carajo, e o dedão levantado não me arranjou nenhuma carona, e olha que a maioria das pessoas estava sozinha no carro, e todos estavam indo para um destino em comum, que era o fim deste morro-rua-sem-saída.
Desconfiança que, creio eu, as pessoas estão tentando remediar ao fingirem não ver os cacetetes em vão.
E é isso. Façamos nós o contrapeso.
Hoje a noite, lá pras 10, show protesto na USP, com Benegão, Arrigo Barnabé, Isca de Polícia, Tulipa Ruiz e Patife band.
Foquemos o olhar para refletir que a coisa ta feia. A repressão de lá é a mesma repressão daqui, talvez mais explicíta, mas tão vergonhosa quanto.
Falou feios.
_Alo, pedro, aqui é o curirim, lembra, isso, isso, daquela viagem lá que fizemos juntos, filosofia, isso, isso, que viagem em mano,  não?
Mas e agora voltei pra vida unicamponesa e estou me reestruturando de casa comida e roupas nunca dantes lavadas.
Deixei um pé no ifch, parti com a cabeça pro ia, mas deixei um outro pé no iel, e é foda porque no fim das contas eu curto estar perdido, tentando olhar pra todo lado, consciência feito cachorro de apartamento no fim da tarde,  e o dia em que eu me achar vai ser chato, pois vai estar fixo.
To animado pro curso de artes e pras pessoas.
Sei não se tem cara de que tudo antes foi um preparo, por pensar que entrar na faculdade com 17 anos é besteira das maiores, ou por acreditar de fato em evolução. O que foi já foi e forá.
Estou matriculado numa porrada de disciplinas e meu plano inicial é tentar ir escrevendo e mostrando aqui no blog bastante as fitas que eu estiver estudando, produzindo e rolezeando. Posso mudar de idéia, mas até isso, pretendo comunicar.
Comunicar, comunicar. Tudo seria mais fácil se não existisse essa necessidade de comunicação. 
Não que as coisas estejam difíceis. Digo, sei lá. Acho que as coisas estão feias na Unicamp, politicamente falando. Não só lá, mas em Barão Geraldo, e em Campinas, e no Brasil.
Mas como sempre, o bom é ir tentando conciliar esse problemas gerais com os problemas de ordens existenciais, mais os amorosos, os familiares e os de produção de conhecimento, sem esquecer do essencial e mais difícil, que é um treinamento integral do olhar, pra ver que, os problemas existem, mas, acima de tudo, sou privilegiado pra caralho quanto ao acesso ao mundo.
Gostei de uma fita que um brother falou hoje sobre o Eduardo Galeano, que, ao ser chamado de intelectual, rebateu dizendo que intelectual é só uma cabeça, e ele gostava de estar de cabeça e sentimentos, em tudo.
Por aqui, eu só vejo a guerra: uma cabeça que sente muito pelos meus sentimentos, que só querem pensar, mas não sabem.
Ainda há tempo. Os maias nem eram assim tão sábios. Espero.



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Domingueira cortazariana e caranguejeira

Tinham construído a casa no limite da selva, orientada para o sul evitando assim que a umidade dos ventos de março se somasse ao calor que a sombra das árvores atenuava um pouco.
Quando Winnie chegava
Deixou o parágrafo no meio, empurrou a máquina de escrever e acendeu o cachimbo. Winnie. O problema, como sempre, era Winnie. Quando tratava dela a fluidez se coagulava numa espécie de
Suspirando, apagou numa espécie de, porque detestava as facilidades do idioma, e pensou que não poderia continuar trabalhando até depois do jantar; as crianças logo iam chegar da escola e ele teria que preparar o banho, fazer a comida e ajudá-las nos seus
Por que no meio de uma enumeração tão simples havia como um buraco, uma impossibilidade de continuar? Era incompreensível, pois tinha passagens muito mais árduas que se construíam sem nenhum esforço, como se de algum modo já estivessem prontas para incidir na linguagem. Obviamente, nesses casos o melhor era
Largando o lápis, pensou que tudo se tornava abstrato demais; os obviamente os nesses casos, a velha tendência a fugir de situações definidas. Tinha a impressão de estar se afastando cada vez mais das fontes, de organizar quebra-cabeças de palavras que por sua vez
Fechou abruptamente o caderno e saiu para a varanda.
Impossível deixar essa palavra, varanda.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

sábado

Desde que eu era mais moleque do que sou, quando comecei a escrever, já estavam lá os fumantes interagindo nos contos que cheiravam urina do arouche com blues da praça roosevelt. Até em meus cadernos do ensino fundamental, meu desenho mais clássico, famoso e famigerado, o capitão novolin, o super herói mais bunda mole da história, lá estava ele fumando cigarro como um cretino ao invés de sentar a porrada em algum porra de criminoso, que provavelmente estaria fumando também.  Não sei se é influência, ou algum fator genético, mas desde que me lembro como gente apoiei o caubói marlboro nos momentos em que ele está no cavalo empinando e vendo o sol se pôr. E foda-se o resto de sua vida, não me importa. Como aquela vez em que a fumaça transfigurou-se num corpo, sentou-se na janela e me soprou no lustre até que eu me dissipasse. Eu quero parar de fumar, mas é o cigarro que me fuma, e sinto que ele está já para morrer de enfizema. Eu fumo pouquíssimo comparado com as pessoas que fumam, mas aprendi a fumar com uma pessoa foda. Me ensinou que aquilo tem a ver com momento, com o estar ali. E se tem uma coisa na vida que sou um bosta, é estar nos lugares que estou. Então meio que, inconscientemente, quando eu acendo um cigarro, eu dedico ao Bergson. Aos Mutarellianos: Diomedes, Agente, Paulo, Miguel, e Júnior, principalmente. E gosto de ir em lugares que as pessoas não se importam que fumem em seus estabelecimentos, como a cachaçaria, como o estúdio do Amilton. Lugares frequentados por pessoas que respeitam isso e não vão fazer uma denúncia anônima ao Kassab, e inconscientemente, ao ver um fumante, estão dedicando o copo de cerveja ao Thoreau. O cigarro, que junto do esqueiro, é o maior organizador de encontros inesperados, unificando brasa a brasa aqueles que pertencem a esta seita, a escória dos excluídos pelos politicamentes corretos, a corja dos mal quistos na sociedade da saúde e do ecologicamente correto. E se pela manhã, sozinho em casa, você encontra um cigarro avulso no bolso da bermuda, ao pensar que horas atrás a garota mais bonita da cidade pediu-lhe um cigarro no bar, e vocês não conversaram por ela ter seguido sua saga por tabaco, você nem chega a se entristecer, pois sabe que o deus cigarro é sábio e escreve certo por linhas de pólvora tortas.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Estar e já não estar.
Travado em muitos projetos. Nenhum de fato acabado, muitos pensados, planejados e prometidos.
Mas nunca terminados.
Ainda que a desesperança das pessoas que esperam algo de mim pareça ser menor, pois certamente sempre conheceram-me melhor do que me conheço, e desde o começo entusiasmaram menos do que eu.
Sabiam ver que incêndio quando é grande demais apaga rápido, já que atrai ou vira a própria chuva.
O ridículo é que meu maior medo em vida é o tédio.
Imbecil.
Se ele existe, bem deve ser um tédio em conviver eternamente com um sujeito incoerente e preguiçoso.
Escrevi agora que um espelho não é capaz de reconhecer o rosto de um cego.
Não entendi porque, mas vou ver se entendo.
Já que hoje mesmo não vou fazer nada do que pretendo, em matéria de desenho, de escrever, de quadrinho, de grafitty, de estudos...
Nesta altura do campeonato, ainda tenho a cara filhadaputa de acreditar que amanhã terei mais ânimo, iniciativa, ou sei lá o nome que posso dar para uma vegetabilidade da alma.
Ou talvez nem é pra tanto, é só pra quase, que já é um bom tanto.

ou seus cus,

quarta feira dia 29, as 21 e 40
vai passar my blueberry nights na cultura..
é meu filme preferido
digo, é meu blues preferido

falow manos e minas

quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Em uma cadência uniforme e constante, a garota foi retirando, em forma de fatias retangulares, algumas densas camadas de cimento de um grande triângulo maciço: construiu sua primeira escada. Por não ainda conhecer a função de uma escada, e não conseguir pensar em nada melhor, subiu. Pensou em todo o amor que deixou pra trás, e por não saber outras funções que pudesse ter sua escada, entristeceu de solidão. Passo após passo foi sendo esquecida por nós. 


É meu amigo, chegou o seu chegará o dia em que tudo o que eu disser, será poesia.



o que a pé tece
o que apetece
o que parece prece
o que não perece

padece

o que
o que
o que
o que
E já acorda sem ar. Sentado na cama, pés deitados na cadeira.  Do banheiro, cantando uma música estúpida, vem forte a voz da garota que não fuma, mas aventurou-se para impressionar, em uma noite que não fluiu no tempo, nem se deu no espaço. Ela vestida apenas com a camiseta de banda que não é sua, pelada de qualquer resquício da cara de profeta do dia anterior. Repetia tanto que hoje tudo estaria diferente que ele até deixou de acreditar. Nem sabe que, além de tudo, está pra perder o hábito de duvidar das coisas.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

fico feliz. se isso me faz ser feito de algo, e mais feliz de estar sem troco pra essa que você me fez,
esse seus nãos planejados, essa carochice que ando escutando de que o firme do tronco é o prático, a idéia é a porca apática e só o sorriso é um só. isso somado e misturado em jejum com doses cavalares de remédios que lembrem a vida que ela não tem mais jeito que não curtir, volto a todas as rememoranças, por exemplo, de quando teus bends faziam minha bad, e que por fim eu só faria tudo aquilo de novo por tudo o que não fizémos. sei que será por um acaso ter avistado meu alvo, assim como também o sol do sertão ser quente feito deste jeito, e os fundos das horas acesas, e os fumos deixados nas quartas de que me esquivo diariamente com o que quer que eu tenha guardado no bolso. fico tão feliz que nem isso me faz querer estar por perto quando isso acontecer, nem fantasiado de consciente.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

pequenos bonecos feitos de pão, escolhi. e então de vez absurdo, isso. lembra de quando eu era criança, e corria até afundar na piscina. a vida. e todas aquelas gravuras do volpi, e todos aqueles cds sem capas, ou seja, tudo riscando jogado nas gavetas, e é como se eu tivesse uma faca e furasse a pele da bateria e depois cortasse os cabos e tomadas de toda aquela gente boa e honesta, e por deus, é como se eu esganasse Ella fitzgerald de pouco em pouco, e desrespeitasse as poucas coisas que acredito e ainda não se perderam na minha mochila, pendurada por uma só alça e toda manchada de tinta, roubada, assim como essa necessidade de, em um país tropical, ter de rebocar uma galáxia de coisas que desimportam pra todas as pessoas que amo e mesmo assim caminhar atrás de água pra fazer a coisa e não usar lágrimas, ou também motivos e não areia, ouve só, essa faixa não pulou nada.

sábado, 18 de fevereiro de 2012

Sábado

Há um ano atrás eu estava melando as tangas de ansiedade para minha viagem à Irlanda.
Porra, passou-se um ano já, voltei e sou outra pessoa totalmente diferente, e todos perguntam se valeu a pena, e eu digo que sim, mas não tem muito a ver com valer ou não. Não sei bem.
Na mesma proporção, cresce de um lado minha maturidade em saber que sou moleque, e do outro lado uma inquietude do caralho. Mas isso me alegra, pois cada vez mais sinto-me mais preparado, ou, ao menos, buscando ferramentas pra saber o que fazer com essa inquietude, fazer disso um inquietração.
E se sou triste e desesperançoso em grande parte do tempo que estou sozinho, desta vez estou feliz. Acordei com uma sensação de fim de ciclo, ou começo. Não sei quanto vai durar essa fase de ser meio cronopio, meio fama, acordar e querer sair logo da cama.
E que essa nota sirva como uma oração, de agradecimento. Porque rezar mesmo eu nunca soube, nem agora com Ritalina.
Encontrarei a maga?

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

quarta é quinta

véspera de carnaval, pinhal, êo
Acabei de falar com o Plinião, e agora sinto um sentido depois de uma semana de muito papo com o Italo Calvino, os Concretistas, o Black alien, o Galeano.
É, não dá pra explicar. Até porque to bêbado. Eita porra.
Alias, êta porra, do Amiri. Escuta ae que você vai ver o que é fita cabulosa.
Falando em, também digo que fita cabulosa tá é minha vida.
Acho que é porque ontem eu vi Donnie Darko de novo.
Na primeira vez que eu vi Donnie Darko, há mais ou menos um mês, eu fiquei em choque durante dias. Não só tocou profundamente meu mais profundo medo, como também disse e muito sobre minhas questões de viagens temporais.
(Sério, não dá pra me levar a sério. )
Passou, passou.
Ontem foi mais sussa. O filme apenas reimplantou em minha cabeça aquela idéia de que tudo está conspirando, está construindo um destino, de que cada coisa é essencial e que nosso caminho foi pré-determinado de forma tão forte e firme que até uma tentativa de saída dos eixos já era premeditada.
Foda em.
Tão foda que é melhor deixarmos pra lá.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Um documentário que curto é o Palavra (en)cantada. É sobre muitas coisas, mas principalmente sobre o casamento da música com essa outra besteira, a palavra, e de como essa união se dá na música popular brasileira, nossa herança dos trovadores hibéricos, poesia etc etc.
Neste momento, a poesia pra mim é uma linguagem, ou seja, um jeito específico para se dizer as coisas que se quer dizer.
É, a primeira vista, uma linguagem que parece ser infinita, mas que tem limites muito sutis, que quando percebidos, revelam um grande poeta que, sem saber, os buscava há décadas.

João Cabral, Augusto de Campos, Paulo Mendes Campos e Manoel de Barros, a meu ver, cada um de seu jeito, encontrou com as limitações da linguagem e resolveu este problema foi na forma gráfica da coisa. Mestres do desenho mental, eu gosto pra caralho de sempre me perder em suas poesias, não sei se por não conseguir distinguir os contornos do que é palavra do que é imagem, ou se é por ainda querer pensar tudo de forma racional e de forma lógica.
Por um outro caminho eu vejo o Vinícius, Baden, Luis Gonzaga, Chico, Itamar Assumpção, Lenine e todo um movimento do rap, usando a música como estrutura interna da poesia.
Sei que essa discussão é velha, poesia e letra de música e bla bla bla.
Não sei se essa divisão que fiz em minha cabeça é justa, principalmente, pois, todos eles, hora ou outra, transitam pelos chãos que não são os seus, já que aquela infinitude poética que anima qualquer poeta amador, nunca é de fato superada.
Sem falar que meus preferidos encontraram de cada lado um limite diferente, e acabaram encontrando um outro caminho, sei lá, se pá pra cima. Cortázar, Leminski, Guimarães, Mutarelli, Oswald, etc.
Até.
Logo em breve vocês descobrem porque to falando tanta coisa desconexa e usando esse título.

domingo, 12 de fevereiro de 2012

domingo

só sujeira nos meus cultos
sou pra ser sujeito oculto
sou tumulto de certezas
pó que n'água vira suco


etc etc

Investigações negras 1

Nestas semanas, muitas coisas aconteceram. Desde um retorno meu a faculdade, até uma mudança de foco quanto a levada da vida.
Coisas que pra mim são muito claras, mas que para explicar escrevendo é bem difícil.
Essa própria dificuldade é algo novo pra mim.
Percebi que eu penso principalmente através de imagens. Não sei se posso expandir esse pensamento dizendo que todos nós fazemos isso, raciocinamos através de imagens. Sei só que funciona para mim.
São associações que faço entre pensamento e imagens: idéias ligadas a momentos, momentos que nunca sinto em forma de sentimentos, mas sim relembro através de imagens.
Músicas que escuto, e inevitávelmente relembro de um exato lugar. Idéias que, para relembrá-las, evoco imagens do lugar em que as pensei pela primeira vez.
Como por exemplo estas idéias que estou escrevendo agora: Dei-me conta disso pela primeira vez em dublin, ao ouvir o áudio de uma palestra sobre imagens, enquanto eu desenhava na mesa do quarto que dividia com a Mari.
Não tem a ver memória fotográfica. Eu nem sei o que é memória fotográfica direito.
Acontece é que não me lembro de detalhe algum do momento, apenas de um resumo imagético geral, uma rápida cena em que lembro apenas a posição geral do quarto , na terceira e última arrumação que fizémos, a cama ao lado da janela, a mesa na parte que tinha o carpete e não o azuleijo, e eu sentado nela.
Essa memória, agora já sei, tem a ver com meu interesse por aquele momento. Como o assunto me animou, meu cérebro achou modos de associá-lo a uma imagem para que depois eu pudesse usá-la de chão e então resgatar o raciocínio.
Foi como quando vi o Danilo tocando piano pela primeira vez. Aquele momento esteve tão presente naquele momento, que vez ou outra quando escuto algum pianista no fone de ouvido, imagino por imagens aquele momento, aquele piano preto, o banquinho, a mesa de professor que usei de banco para assistir, e o angulo mais ou menos exato em que eu via.
Acho que nosso intelecto apoia-se muito mais em imagens do que imaginamos. Mais até do que em palavras.
É isso: se pá que a experiência visual prescinde muitas vezes o pensamento.
Profundo?
Não sei. Só sei que eu só consigo pensar o conceito profundo, por já ter visto um poço, ou um penhasco, ou um buraco, sei lá.
E só sei que ando gostando da idéia de tentar fazer poesia com palavras que não remetem a imagens, palavras que não fiquem desenhando coisas em nossa cabeça.
Eu já desenho de lápis e nanquin, se pá que quero usar palavra pra outras coisas. Outras coisas daqui que não consigo desenhar. Sei lá. Usá-las para me referir as coisas que conheço de nome, mas não de imagem.
Como o Zimbábue por exemplo. Não me lembro de ter alguma imagem formada sobre o Zimbábue.
O Zimbabue é uma das coisas do mundo que ainda está livre dos meus preconceitos. Imagísticos que sejam.
Depois continuo. Estou gostando do assunto e já o devo ter registrado nas gavetas ocultas da cabeça: na mesa sentado de costas pra janela, bagunça de ressaca de formatura, vários colchões na sala e vários corpos babando e roncando em sono profundo.
Como um poço.

sábado, 11 de fevereiro de 2012

sábado

um código
disserto com convicção sobre coisas que não sei, bebo um de virada para não acordar de vez

nos ombros
converso ao pé da orelha para encobrir o resto de sons e olhares, dizem todos que o que era pra ser não foi e não sabem do futuro um passo

chegarei a te conhecer
assim como os discos não escolhidos pela vitrola, com seus ainda bens, que assim descansam. Numa caixa.

se deixar de me conhecer
saberei dos carinhos que chegam, e dos que também se amargam

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

segunda

cê liga cedo, que a madrugada é clichê, cê pensa e penso, que o que suficiente era e dançava rumo ao centro da terra, agora é isto, tensa, agora é isto; pornochanchada tensa existencialista isso é um parto de emergência, recordo-me apenas dos planos da nossa vida, quando entre os dedos meus eu via sós os dedos dela, vontades abatidas no ritmo da banda, e o trompete não casava com a guitarra, e a bateria era tão limpa, cada nota ocupando o seu momento, de forma ímpar, mas erámos nós que os colocávamos em nosso próprio ritmo, pura precisão, minhas preces são assim, em forma de vida vivida cavalos correndo sem pastos, menos os meus te amos que já não são os mesmos depois de tantos anos, mas ainda assim um desses eu faço questão de responder, já que figuram tão cedo e sem medo, já que depois se transfiguram em passos,  passos que a nação diz mas não diz, aquele passo que a ciência não entende sem os chicos, fiz o que fiz só pra dizer que ter te conhecido é ter me reconhecido, você chora, e eu desligo sem saber também.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Domingo

Não gosto de pensar que existam livros de ouro da humanidade, as ditas ''grandes obras do espírito'', livros perfeitos a espera da necessidade da raça humana.
Dizem que tudo, ou quase, está em Homero. Eu não sei, pois nunca li. Mas incomoda-me pensar isso, que li em Pound, pois essa história de descobrir os clássicos para saber os diluidores, me parece bem fascista, elitista e nem um pouco incentivadora.
Sei lá, eu gostaria de saber melhor conciliar as coisas, pelo menos em meu entendimento, em relação a essas brechas imensas entre ações poéticas e políticas, eruditas e populares.
Acho que atitudes intelectuais restritivas, como essa de Pound, talvez sejam boas para um desenvolvimento de idéias, uma das características intrinsicas da arte. Porém, como acho que a comunicação é tão importante quanto a evolução, vou pegando birrinha de coisas extremamente conceituais, obras de arte que comunicam-se apenas com uma meia dúzia disposta, e com tempo, para estudar e entender o que se passa.
Mais um dilema, anotem aí.
Sei lá, tudo isso ainda é muito confuso para mim. Pois essas problemáticas só surgem mesmo quando penso nelas, ou quando penso a obra de alguém com esse pensamento.
Já quando eu produzo algo, um desenho, um texto, um poema, geralmente as questões são outras. Primeiro, pois, acredito que nada meu é complexo ao nível de se pensar que as pessoas não entenderão. Segundo, minhas necessidades ainda são de inquietação e divulgação, e como encontrar maneiras que me agradem e que consigam exprimir uma coisa que as pessoas não precisam de fato em suas vidas.
Gosto de pensar, leminskianamente, que a poesia está dentro da vida, e não o contrário. E se em horas eu hesito, e trepido para o lado negro da força, colcando a vida dentro da poesia, depois eu escuto um Itamar, ou um Raimundos, um Chico Science, e volta meu pensamento sóbrio, ou pelo menos o que eu julgo sóbrio e lúcido, de que não vai valer a pena. A vida é uma só, enquanto as poesias são várias.
Depois quero falar de um conto do Borges que trata exatamente disto: vida, poesia, eternidade e Homero. Mas não agora.
Enfim, a princípio, quando me sentei aqui, o mote principal do texto seria dizer que não acredito em livros fundamentais, para depois me contradizer e abrir uma exceção para as veias abertas da America Latina. Me perdi no meio e falei as mesmas coisas de sempre.
Então: As veias abertas da America Latina. Na boa, é essencial, e principalmente para nós, Latino Americanos.
Pensando-o seriamente como um livro que desenvolve idéias, estrutura conteúdos, aponta desgraças e caminhos, e principalmente mostra que não aprendemos nada.
(Blackalien: _Quando a situação é grave se organizar concentração é a palavra chave.)
Na boa, e o Galeano comunica. Conversa como se estivesse aqui, tomando essa bosta de café que estou requentando já faz dois dias, olho no olho, sinceramente dizendo que esse silêncio que temos guardado é bastante parecido com a estupidez.

sábado, 4 de fevereiro de 2012

direito ao contorno do eterno retorno
o andar de terno e de coice
rostos marcado por inexpressão
a distração do atirador de facas
revolições de casa copiadas em sala
súbito trote interrompe sequestro
um poço de fundo falso
um som pra ginga das gangas
na solidão
o revólver que resolve funcionar
na solidão
o mundo que resolve não colaborar
nasce mais um dia
para quem tem mais um dia

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Quando se tem que ver sentido
em algo que foi perdido
e a própria necessidade
tem a face de um convívio
que do próprio aniversário
se esqueceu
da sensação de ter perdido
os melhores anos da idade
do velho cachorro
envenenado pelo vizinho
e que nem por isso
foi que morreu

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

quarta feiga 2

ainda a respeito daquilo.
acho bom estar neste meio do caminho, principalmente,
pois agora aceitei estar neste meio do caminho,
e sendo assim,
não estando em lugar nenhum
tenho suficiente distância
para não estar em nenhum lugar
e isso me agrada
já que lido melhor com problemas que não são meus
por não os considerar problemas
mas sim poesia

quarta feiga


ontem saí com o plínio e o danilo, o que comprova o fato de que eu sou o maior ladrão de amigos do mouro que o mundo já viu.
o plínio acabou de voltar da frança e me trouxe de presente um estojo de aquarela, dois pincéis e um nanquin, classe a, dezenas de vezes superior ao meu desenho, o que me empenha e me dá gás pra perder mais noites de sono.
espero que isso não pareça pedante, mas das semanas que fiquei em pinhal, difícilmente existiam conversas sobre idéias.
não é uma crítica, é uma constatação.
eu mesmo, se não tivesse fugido aos 15 com o circo do broa e do peido pra morar em campinas e estudar por lá, atualmente, nunca estaria sentado na cachaçaria notando que as conversas, filhadaputamente engraçadas, em geral não são baseadas em cultura e arte, além de que, provavelmente, estaria junto deles de fato na conversa.
já em são paulo, ontem com plínio e danilo, e sempre também com primão, mouro e mari, as conversas conceituais são muito mais frequentes, e nelas, percebo de minha parte, uma menor fluência, que não chega a ser falsidade, mas talvez uma tentativa fálida de adequação.
Isso porque a cultura popular e erudita esteve ao redor deles muito mais do que de mim, seja em suas famílias, ou simplesmente por morarem em são paulo.
e queira ou não, todo pensamento e hábito, precisa de tempo para desenvolver-se e internalizar-se nas pessoas.
minha família, e provavelmente, grande parte de pinhal, não preocupa-se com cultura.
o que, e só agora percebi, não é culpa deles.
é que simplesmente não faz sentido em suas vidas.
não tiveram uma mínima formação crítica para ouvirem
um luiz gonzaga, um chico science, um itamar assumpção,
ao invés de um michel teló, uma tailor swift.
nem para ler um cortázar, um rubem braga, ou uma alice ruiz
junto de tanta auto ajuda e best sellers.
a própria reflexão e discussão virou algo que repudiam.
e é por essas e por outras, que fiquei no meio do muro.
não tive uma formação crítica minimamente suficiente para ouvir
bach, stravinsky e debussy
junto do sonny boy willianson II, raimundos e planet hemp.
nem para ler malarmeé, joyce e haroldo de campos
junto do mutarelli, do mirisola e do manara.
e por fim nunca estou onde estou, se é que me entendem.