sábado, 31 de março de 2012

A soma do conhecimento humano está para além de um só indivíduo, de mil indivíduos até. Com a destruição da nossa estrutura social a ciência fragmentar-se-á num milhão de pequenas partículas. Saber-se-á muito de pequenas facetas de um conhecimento total. Por si serão inúteis, fragmentos de usos e de costumes não terão significado e não serão ultrapassados. Perder-se-ão através das gerações.

Isaac Azimov, em Fundação, profeta pra porra.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Foi se o tempo da leveza. Abro os olhos, estou numa conversa. Não sei se fui eu quem disse ou ela. Ela é difícil de se conversar. Pra cada uma palavra que diz, sessenta estão subentendidas. Tem a outra, aquela que não diz nem camufla nada. Pra cada uma palavra que diz, a realidade toda converte-se em uma mão pesada, e dá me um tapa dos mais fortes. Os discos de vinil são roubados, ficaram neles os ouvidos dos donos antigos. Escuto todos os sons, mas perco sempre o silêncio. Despertar e desespero. Ela não disse um espero estar presente nos seus desejos quando se encontrar com outra. E isso é preocupante, mulheres tramam para nos prender a elas. Já elas não se prendem a nada que não lhes faça cogitar uma existência ausente de tédio. Diz me que sua vida é mais fácil pois vive de verdade, já que mesmo que a verdade acarrete pesos de consciência,  ainda assim é menos trabalhosa do que a necessidade de construir sobre si mesmo uma existência tão foda como aquela que você pode ter inventado para alguma garota te admirar e dormir pensando noite após o dia se o jeito que de se despedir é um símbolo representando todo o mundo que ela conhece. Todo o mundo ela conhece. E é assim, tão pequena e bonita. Seu sorriso me incentiva mais a viver do que qualquer livro de filosofia ou história em quadrinho de ritmo beatnick. Ela sabe o que eu quero, eu sei que ela finge que sabe.  Agora. São longuinho, são longuito, onde estão meus olhos? Ela me olha e eu passo de música. Ela me morde, diz que gosta de meninas, que está comigo mas que está pensando em outra. Despertar, apenas. Saio do quarto sem acordá-la e também seus planos. Em casa me sinto sempre inquieto. Antes de sair não calculo em quantas horas voltarei. Escuto um tiro. Ou só mais um barulho do bairro, talvez uma encruzilhada distante. Os traços mais falsos são capazes de impressionar a todos. Não é como um hologrâma, que para não ser apreciado precisa primeiro ser entendido. Ou simplesmente ser visto de caneca vazia. O café, solúvel ou não, é só um liquído para preencher o tédio. Seu valor consiste em invocar um cigarro, o último shamãn da civilização ocidental . É um momento. E neste momento, apenas, o relativo não me importa. Uma coisa é isso ou é isso, está certa ou está errada. Todos sabemos que a fumaça entra arregaçando com nossas células tão preciosas, e que o vício é um amor pela auto destruição. Ou deveríamos. Eu falo alto e só por isso já sou mais importante para ela do que o outro. Suas vaidades mais profundas. Responsabilidades compartilhadas por 2 pessoas capazes de distrair o tempo. Na imensidão das representações tenho apenas vontades. Tocar guitarra, pular na piscina e depois ainda dormir com essa garota. Até que você esqueça seu nome, e então finalmente está livre. Deixa de dizer em nome de,que no caso era você, e passa a dizer e só dizer. Aquilo que precisa ser dito. Como o fez Sabotagem. Foda-se Ferreira Gullar, e se o Nobel fosse algo significativo, Mauro Mateus seria sim o primeiro brasileiro a realmente merecê-lo. O que se faz e o que se fez são coisas diferentíssimas. O que eu fiz foi puxar forte e prender a poesia, para cair com ela num ônibus caindo aos pedaços, e então comprarmos juntos algum biscoitos de polvilho e uma boa cerveja em algum canto desprezado pela América latina.

quarta-feira, 21 de março de 2012

e ontem eu vi saturno. pourra bitcho, saturno. ele existe mesmo e é grande, lento e incalculável, bem do jeito que eu não imaginava, porque eu sempre só o via em alguma revista, em algum desenho animado, e não com um telescópio e um sagaz olhar sedento pelo empírico, enxarcado com seus anéis e luas, estáticos num momento distante e em distâncias tão grandes que nossas palavras já nem fazem sentido, mesmo que alguém resolva uní-las, pensando que com um hífen seja capaz de fixar uma realidade que nunca nos coube inteligir, anos-luz de um entendimento e de uma condição somente agraciada, vez ou outra, com o fantástico que se deixa revelar para que exista ânimo de moleques solitários irremediáveis, mas ainda assim plenamente convictos de que vale a pena um dia após um outro, pra poder fixar depois um momento, e um só, o de saturno, com o seu tempo que não pretende ser capturado em relógios de pulso e compromissos inadiáveis, nem para voltar a sentar com os pés na água e essa garota que conta estrelas cadentes que só aparecem mesmo no interior, onde a luz ainda não impera, pelo menos não ainda nesse ano, e depois me diz que gostaria de ir embora, mas ainda não sabe meu nome de verdade.

segunda-feira, 19 de março de 2012

segundona

É questionável a realidade da minha realidade aqui na universidade. Moro numa república com mais 8 pessoas e somos todos brothers uns dos outros, temos uma piscina um play 3 e dezenas de instrumentos musicais. Nossas conversas sobre idiotices e mulheres são permeadas com sérias discussões de ensino, filosóficas, de arte e de literatura e quadrinhos. Eu lanço a idéia de desenhar na geladeira e todo mundo fica eufórico e abraça. As mesmas pessoas que quase, ou totalmente, varam a noite trocando idéia e indo nas festas por aí, são as que depois acordam cedo, ou nem dormem, e já vão para a aula, com uma seriedade e um respeito pelo que estudam inquestionáveis. Eu tenho aulas teóricas que se tornam aulas práticas, e isso é a melhor coisa que já me aconteceu na vida. E enfim, frente a tudo isso, é impossível que eu não me questione quanto a verdade da minha vida, que, por ser tão contrastante com a realidade geral do espaço em que vivemos, o Brasil, qual sua responsabilidade frente a isso, visto que meus estudos são bancados com verbas públicas. Acho que não existe resposta, mas talvez exista, na pergunta, uma validação da minha busca, quer dizer, desde que eu não me esqueça disso, talvez eu não me perca nos trâmites e arapucas que a babilônia nos prega, diariamente. E seguir curtindo uma vida surreal em que eu tenho um programa na rádio Muda, e entre um rap e outro blues, peço no mic um cigarro e um desconhecido aparece com um maço em plena madrugada, e além do papo, de quebra ainda me ensina a manusear o toca discos dignamente.

quarta-feira, 14 de março de 2012

curinópolis

nos dias que a cabeça funciona no tipo exportação, tudo tende a não funcionar direito, ainda que o cliente mais importante não se importe e até incentive que assim eu continue, como se eu fosse um trem que parte para poder ser trem, ou como um trem que fica para poder não ser. ah o blues, ele também me disse, ah o blues. seria bom se eu tivesse nascido onde nasceu o blues, quero ver um stravinsky fazer o que ele fez nascendo em alguma roça esquecida no mundo. 




 













Em um futuro incerto, a cidade está devastada e você está com estranhos poderes elétricos e habilidades físicas extremamente desenvolvidas, que o faz, a todo tempo, se questionar sobre seus valores, que por um lado o tencionam a seguir sendo bom e ajudando o que sobrou da humanidade contra as milícias que no caos as domina, ou destruir as milícias, mas não necessáriamente protegendo os pacatos cidadões amedrontados, e, sim, muitas vezes agrendindo-os para bem agradar sua vontade, seu prazer e seu sadismo. a população está em choque, dividida entre os que te amam e os que te vêem como uma ameaça, o gasto provérbio, quem vigiará os vigilantes, volta a fazer sentido e você percebe que por mais que tudo saia bem, por fim, sobrará você, que tinha o poder de fazer algo e o fez, mas que jamais saberá como seria não ter feito, num tempo em que só lhe restará o pobre poder supremo da abstração para dia após dia seguir escrevendo na era do video game.

quarta

Quanto mais o tempo passa, mais eu percebo que o entendimento lógico é insuficiente, incoerente e, muitas vezes, só se valida na área de conhecimento em que atua. O quão preocupante é isto? Não sei. Só sei que sou a exceção da exceção da exceção, já que dentro da américa latina, existe uma bolha chamada Brasil, que, consequentemente possui sua bolha chamada São Paulo, que também possui suas bolhas internas, como a região de Campinas, polo tecnológico, e dentro dela Barão Geraldo, subdistrito praticamente em função de 3 universidades, uma delas a Unicamp, que, de seus tantos institutos, possui uma grande bolha circundando os intitutos de filosofia e ciências humanas, o instituto de estudos da linguagem, e o instituto de artes, sendo que, cada aluno deste lugar é uma bolha de interesses próprios e frequentemente incríveis.
Por exemplo, ontem eu estava falando sobre o rap, e evidenciando os motivos que me fazem realmente acreditar que ele seja a música dos nossos tempos, como foi o jazz nos anos 50, e como finalmente temos uma música na velocidade, veracidade e peso da nossa geração, uma geração sem nenhuma grande guerra para lutar, uma geração sem nenhuma grande ditadura para combater, pelo menos não explícita, pelo menos não unificada,  mas que ainda é uma geração, e que tem em si a vontade de gerar algo.
Enfim, no fim de tudo o que falei, ela só disse que é incrível o fato de algo ser tão importante para mim e no meu mundo fazer tanto sentido e ela desconhecer totalmente. Deve ser isso mesmo, todos estamos procurando respostas, cada um do seu jeito.
Depois de ter lido os intelectuais e a organização da cultura, do Gramsci, pouco a pouco estou deixando de ser pedante e arrogante, mesmo antes eu fosse, mas, acredito, sem nem um pouco de maldade. É que, mano, existem diversos tipos de conhecimentos, o racional é apenas um deles, e se, por um momento ele é capaz, ou não, de pensar-se a si próprio, já quanto a todo o conjunto ele ainda é fálido, visto que sempre terá uma visão de fora. as pessoas todas tem o seu rolê, cada um na sua própria velocidade. E eu sou a exceção da exceção, o que tira mais ainda qualquer possibilidade de orgulho, já que sou privilegiado por bosta de sempre ter tido oportunidade para estudar e enfim cair no instituto de artes, no curso de artes plásticas, um lugar onde as pessoas ocupam-se em ter uma boa formação prática e teórica para mostrar suas próprias, individualíssimas e fantásticas visões de mundo. E isso sempre encheu a barriga existencial das pessoas, ou os poetas já teriam sido extintos. Encheu a barriga mesmo sem que saibamos ao certo se realmente o que ofereceram foi de fato mastigado, ou, na pior das hipóteses, se o que ofereceram era tragável.
Mais foda ainda é pensar que alimentaram-se, mas não passou de necessidade, como se o pensamento analítico, expositivo, dedutivo, científico, ou até místico, em certas horas precisasse parar, e então confortar-se num mundo alheio, de existência comprovada, ou, no mínimo, de origem localizada, a cabeça do artista e seus não limites.
Não temam, as parabólicas enfiadas na lama acabam de enviar uma mensagem para as autoridades dizendo que há fronteiras nos jardins da razão.
Considerar a educação sensível como prioridade nas escolas, através do contato direto com obras de arte, músicas, literatura, danças, peças e outras manifestações culturais.
Pois desperta, e de olhos abertos será mais fácil de vermos a praia melhor pra ficar.

terça-feira, 13 de março de 2012

Sei bem onde isso vai chegar. sei bem onde vai isso chegar. sei bem onde vai chegar isso. sei bem onde vai. Isso. Premeditações validam recusas, digo obrigado e que eu já sei o que encontraremos, e abstenho-me de seguir um destino que não seja o que eu decidi para mim. Mas ela convida é para voar, e um voo é sempre mais difícil de se interpretar do que se possa imaginar. Lentos, seus olhos refletem sentimentos lentos. a tristeza é um sentimento lento, por exemplo, e o exemplo é um conceito lento. menos  sua risada, que é de quem já sabe o fim da piada, mas consegue esquêce-lo, só para rir com alguém diferente. só para rir de como somos ridículas besteiras, e, principalmente, tempocentristas. foda. como recusar um pensamento tão instigador, de que nosso tempo é que é o tempo, e que devê-mos impô-lo aos que não o utilizam. aqueles que possuirem outros tempos, logicamente, não entenderão nossa força interventiva e revidarão, o que é coerente para seus pensamentos tão ridículamente enclausurados em um só tempo, haha, que idéia, um só tempo, quando vou te dar o presente? quando eu tiver o presente. você é uma contradição. já tenho a idéia de um presente, e sei que quero você junto dela. como se na pressa pegássemos um ônibus pois queremos chegar na hora certa, mas não sabemos que o tempo dos ônibus é um outro tempo, e que quando chegamos nos lugares, para que não haja mais contratempos, as pessoas, inconscientemente, consideram um tempo universal, e não diversos tempos, específicamente, na forma do um por um, de forma a não considerar a mesma coisa o tempo que você passa escrevendo, o tempo em que você percebe o tempo como o tempo, e o tempo que você leva para conseguir esquecer disso e conseguir viver. viver é um verbo e pertence a classe de palavras fracas, que constantemente precisa apoiar-se em um pressuposto para existir, no caso, por exemplo, no tempo, que, assim como o espaço, não precisam de nada mais para se apoiarem, a não ser neles próprios. e existe um nome para isso, uma personificação de infinitas potências em atos.  ela sorri quando eu corro atrás do ônibus e ainda consigo entrar. talvez os sintomas de sua influência sobre mim tenham se mostrado, essa incômoda mas novíssima sensação de não saber exatamente para onde estou indo.

segunda-feira, 12 de março de 2012

Já é tempo desde que deixamos nosso espaço em comum tornar-se só um espaço comum, e então no lugar de seu rosto, quando tento lembrá-lo, vejo apenas algum instrumento musical, e penso das tantas vezes e lojas que fomos de música, de como saíamos sem vergonha de não comprar nada, com a preocupação em decorar cada nota, e tirar do nosso cômodo noite após noite aquele silêncio incômodo. seria besteira pensar que de mudar já não era mais tempo, que a construção já andava a passos largos, e que tudo estava prestes a terminar mesmo. tanto que encostávamos sim nossos pés de noite, e isso nunca perdemos, mesmo que eles soubessem antes de nós que, logo menos, no momento em que as notas  fossem encobridas pelo alarme de incêncido, eles desceriam descalços e em pontas, sem que nunca a perícia soubesse o que sabíamos, dos adornos usados nas estruturas, tanta preguiça ou fingimento de só saber cifras mas berrar em partituras.

domingo, 11 de março de 2012

De um ponto de vista extraterrestre, tudo seria mais fácil de ser analisado e resolvido. A visão clara de quem vê de fora cada pequeno contorno exato, e vai anotando a relação de cada coisa observada com a outra que se forma e se informa para seguir construindo dali pra frente, visão parcimoniosa de um mundo que tem desde fotossíntese e espionagem, até comissões especiais para análise de situações econômicas de países em risco e suporte técnico para montar seus móveis via telefone. E tudo é tão bonito. E isso faz com que seja tudo uma bosta. De não saber qual planeta é o que se vive, a partir do momento em que você o começa a observá-lo e vai perdendo os fios de ligação, por menor que já fossem. Câmbio, câmbio. Maga, quero entrar no quadro. Sim, o aprendizado, sei. Ninguém aprendeu sabendo.

sábado, 10 de março de 2012

_olá. _oi. _estive olhando seus olhos. _qual deles? _qualquer um dos seus quadros. eles são tristes. _você não ficou sabendo? eu até me matei_não importa. eram olhos de alguém em quem não se pode confiar. sou boa nisso. _e o que mais eu poderia fazer?_mudar. _não me alegrava a idéia de deixar de ser o que eu era, e me sobrava essência. _chegava a se contorcer. _no espaço e _no tempo. _o mundo agora te entende, tem até banco com seu nome._entenderam que não há nada a se fazer. eu sempre soube. _e quando você _morreu? _é. _constatei. _e como é? _como se o espaço fosse merda mole. _e o tempo? _o cagão responsável.

sexta-feira, 9 de março de 2012

Subi de busão lotado pensando sobre como falar de paciência, uma coisa que prezo agora e mais que tudo. Pensei em falar dos meus desenhos, e pá, mas as antenas captaram um bnegão que vive isso já e faz muito. escuto então, com o máximo respeito.

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Esse som é sobre a ciência da persistência versus a preguiça e a descrença, paciência é a sapiência do espírito, viver no presente é a base, a chave pra seguir bem na viagem, evite o desgaste desnecessário durante o seu itinerário no planeta, esse som é sobre o processo.

...
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quarta-feira, 7 de março de 2012

quinta

já não me falta a mínima atenção necessária para não desperdiçar um cigarro, nem rodas de capoeira em câmera lenta, ou também extensos questionamentos filosóficos matinais acerca da força ideogrâmica e imagética de um mexicano profissional em luta livre, e, principalmente, já não me falta tudo aquilo que eu sempre fiz questão de não saber que existia, por exemplo as cores usadas como extensão de vazios, ou os vazios como extensões de silêncios, ou os silêncios como trilhas sonoras pra danças solitárias de essência quase shamânicas, tão fortes quanto um olhar apertado em direção a uma desconhecida, ou tão fracas quanto minhas certezas coerentes, mas de toda forma, nunca contornadas, para que eu me lembre de uma eterna ilusão, a do mundo ser solúvel num universo, que, aliás, eu já deveria já ter começado a construir, só que como já são duas da matina e amanhã já cedo eu já nem vou saber se tenho sono ou se é só um já, dito assim, já, só para marcar um momento, assim como já se foi o beijo de klimt, já não tão inevitável, simples já, um já.

terça-feira, 6 de março de 2012

terça

É inegável a afirmação de que a espécie humana falhou como espécie, e nem precisamos falar das variáveis políticas e sociais- falhamos logo de cara no quesito nominal de espécie, já que, salvo raras exceções, os seres humanos são só contemporâneos em um espaço, mas não necessariamente relacionam-se entre si.
Manja?
Tem o culto ao indivíduo, o inquestionável respeito pela propriedade e a doentia busca por uma felicidade apregoada pelos livros de auto ajuda, que estão gerando indivíduos egoístas e otários, numa corrida desenfreada por, por, pelo que mesmo?
Eu, por exemplo, sou egoísta pra caralho. E se agora tento pensar primeiro no coletivo e nas pessoas ao meu redor, é porque percebi que, como diz o rei roberto, de que adianta tudo isto se você não está aqui? (nunca soube se o você é você, ou sou eu).
Mas é muito difícil. O sistema em que vivemos quer resultados, e, de preferências, resultados a que se possam atribuir valores. Meus pais querem resultados, meus amigos querem ver resultados, eu quero resultados.
Mas, o que são resultados?
Coisas que garantam minha felicidade, penso. Mas em geral isso é coisa que nós não pensamos a respeito, meio que já se internalizou em nós, e tanto, que nem lembramos disso: apenas queremos resultados.
E se resultados individuais demandam esforços, resultados coletivos são milhões de vezes mais complexos, mais trabalhosos e não geram nem fama, nem conforto, nem poder, a santíssima trindade dos dias de hoje.
E a carreira solo é mais vantajosa. Se não vem com fama e poder, no mínimo conforto, dizem, o capitalismo assegurará.
Mas mano, mano, nem para isso temos culhões o suficiente.
Busca-se uma individualização de trajetos e de ganhos, mas repugna-se a solidão.
E nestes momentos é que as pessoas aglomeram-se sobre alguma bandeira, instituição, ou alguma coisa maior, que as façam acreditar que fazem parte de algo.
Transferem a responsabilidade de suas ações para além delas mesmas. Genes egoístas, Deuses, Deus, não importa.
E seguimos assim, uma espécie que se constrói dia a dia de contradições.
Se isso é bom ou ruim eu não sei. Só acho meio estúpido uma espécie que existe, não aceita sua própria precariedade, e ainda por cima esqueceu-se de maravilhar-se com todo esse mundão.
Não estamos entendendo nada.

segunda-feira, 5 de março de 2012

segundona

Uma semana com a vibe de encontrar Bnegão, Isca de Polícia, Arrigo Barnabé, Rodrigo Brandão, Ogi, Elo da Corrente e Munhoz vai ser difícil de acontecer novamente.
Além dos Lambe-lambes, das idéias trocadas e pessoas conhecidas, que eu sei que serão bem mais frequentes.
O estar nas artes e não mais na filosofia é algo que ando me questionando.
Penso que, na minha trajetória, tomei um rumo que tende mais ao palpável. Uma busca por ferramentas e meios para transmitir descrições da realidade, porém não mais de forma analítica e conceitual, mas sim emocional.
Algo como estar na pegada de lidar com a imposição das coisas, e principalmente de suas imagens, e a forma como elas são assimiladas por nossos olhos em um entendimento independente, ou preexistente, ao da razão.
E ver como todos insistem, contornam e resolvem os problemas decorrentes desta forma de conhecimento baseada em experiências estéticas, tentando relacioná-los com os problemas do meu mundo.
É, to empolgado.

domingo, 4 de março de 2012



Ele entrou na cozinha e ela estava lá, e os dois ficaram parados se examinando. Depois ficaram com os olhos pregados no chão e não trocaram uma palavra. Ambos eram muito poéticos para dizer alguma coisa. O que estava rolando entre eles era uma coisa muito chata, poética e silenciosa, um vínculo místico instantâneo.

sexta-feira, 2 de março de 2012

hola

Começo três filmes, não termino nenhum. Do livro mais incrível que já me deparei na minha vida, o jogo da amarelinha, não consigo ler mais do que dois microcapítulos. Nem o Corto Maltese, que veio de barco e chapéu dar a honra da visita, eu consigo ler direito. Escrevo uma meia dúzia de palavras que nem faço questão de salvar, desenho três ou quatro zumbis pra gastar nanquin e pronto, passou mais um dia que veio provar que não consigo mais prestar atenção em nada.

Sabe, eu tô pouco me importando se o que eu tenho é um transtorno de déficit de atenção, ou um taquipsiquismo, ou é pura frescura, sei lá. Eu só queria conseguir fazer uma coisa e fazer bem feito. Conseguir ler uma página inteira sem ter a impressão de que eu não li nada.  Estar ali, naquele momento, seja ele qual for. Mas não. Maldito, estou sempre abstraindo as coisas, construindo o futuro do pretérito das orações causais e aí quando alguém grita ritalina, só o que eu consigo pensar é na ruivinha dos mutantes. Não, não, não Jean Grey, é a Rita Lee.

Ahn, falando em remédios, um dos filmes que eu tentei assistir é o ''sem limites'', um filme sobre um escritor de merda que começa a usar um fármaco clandestino que aumenta a capacidade intelectual do sujeito e, consequentemente, o faz ficar podre de rico, vender muitos livros, ser admirado por todos e amado pelas mulheres. Até a parte que eu vi, como todos sabemos, tudo tem um preço e os vilões farmacêuticos caçam o sujeito e tentam matá-lo e blá, blá, blá. Desliguei.

É que aprendi uma coisa com o Pound, que com certeza me tornou um sujeito mais chato: se conhecermos certos clássicos, depois fica fácil descobrirmos os diluidores. Saca? Esse filme, e mais um milhão de filmes e livros que tem esse enrredozinho aí, nada mais são do que fracas releituras do Fausto, do Goethe, onde o sujeito vende a alma ao diabo, curte a vida e depois se fode, porque o diabo sempre vem cobrar.

Existe uma chance do próprio Fausto ser uma releitura de alguma lenda Alemã que não me lembro. Mas não importa, tenho fé que se o Goethe também estiver tentando me enganar, o diabo irá cobrá-lo.

No Mandarim, de Eça de Queiroz, o demônio foi cobrar. O cramunhão também foi cobrar o Motoqueiro Fantasma. Até o pobre Robert Johnson, que salvou nossas vidas, o diabo veio cobrar.

Nunca aconteceu comigo, mas acredito que quando o diabo vem nos cobrar, bem, não há nada a se fazer.

E agora que o papo chegou numa encruzilhada, separamos-nos.
Até.


(texto publicado em novembro. pouco tempo depois envolvi-me com a ritalina e por enquanto ninguém veio me cobrar nada. A não ser que as recentes tatuagens, cigarros e a vontade compulsiva de tirar com a cara das pessoas sejam o preço do foco)

quinta-feira, 1 de março de 2012

Sentindo o quanto é possível o não, e se sim, então começar lentamente a tentar descobrir os limites seguros a serem respeitados antes de que todos presenciem outra tragicomédia, assistam mais um amor incondicional tornar-se indiferença azul, de uma espaçonave sozinho ele escuta aquela risada de chaves no fundo da própria boca, será pela leve impressão de que nem tarde, mas cedo é que já vou, antes de mais um daqueles tiros não letais, antes de mais um dejavu daqueles em que, de cima do telhado, o personagem aponta pra deus e, antes de mais um dilúvio, grita que já sabia de tudo, isso mesmo, e seria tão pedante que nem Ele desconfiaria, pois viagens no tempo nunca foram de seu departamento, e a própria idéia foi a única que até então lhe fugiu do controle, o que foi um pequeno tempo pro espaço, acabou sendo um grande passo para a eternidade tentar se entender.

salve, salve