quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O desenho aí de baixo eu fiz pro blog de um irmão, o plinião.
É nóis!!

www.pliselonplinio.blogspot.com

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Terça feira

Acordar de manhã sem que meu corpo me acompanhe virou minha rotina. Cabeça a mil, começo a estudar as paradas tentando ignorar que estou carregando comigo um corpo semi vegetativo. Melhor assim, nos momentos ruins que tive, a cabeça acompanhava-me na sofreguidão.
Quem sabe eu não faço um esporte essas férias, e viro um cara saudável e no fim do ano que vem eu aviso aqui pra vocês irem me assistir na São Silvestre?

Há. Tá. São silvestre sempre vai ser pra mim uma corridinha de merda, principalmente por usar em vão o nome de São Silvestre, que é uma versão tupiniquim de St. Silvester, o santo das batalhas de boxe e guerras quiçá impossíveis, aquele que consegue sintetizar sabedoria pura em pequeninas frases de efeito como ''Ora, Micky dizia que a luta só acabava ao soar do gongo. Ainda não ouvimos o gongo, certo?” Ah, mano, dia após dia eu acredito, tenho fé e oro para Micky, pois sei que ele representa Deus.


Ainda em São Paulo, percebi que não vi muita gente que eu queria ter visto por aqui. Mas que vi muita coisa que não queria ter visto. Briga de garrafas num bar, ratos passando em mendigos que dormem, nóias com seus cachimbos e etc etc.

Puta que merda. Eu queria não ter visto, e o mais foda é isso. Não consigo formular um juízo a respeito da minha vontade de não querer ver. Foda, esse virar de rosto se desdobra em diversas consequências, que condizem as diversas decisões de aceitar ou não minhas responsabilidades como cidadão e as minhas impotências como ser humano.

Esses assuntos e posturas são sempre mais fáceis de serem deixados de lado, e quando são colocados em pauta, são dificílimos de serem domados para que não se pareçam com engajamento vazio, adequação revolucionária a uma fase de firmação de caráter, e, principalmente, discursinho de miss universo.

Apesar de muita gente vir me dizer que o dualismo ''capitalismo versus comunismo'' já não existe mais, que o muro de berlim caiu, o capital venceu e eu estou aqui  de chapéu atolado falando sobre coisas que desimportam no momento, bem, eu acho que essa discussão ainda é atualíssima e válida, principalmente se pensarmos que essa nunca foi uma batalha do ''casos de família com a Márcia Goldshimit''. Existem sim os ataques, mas sempre estruturados por soluções e propostas bem fundadas.

Eu sou um chato. E isso é tudo que sei a priori. Eu sinto muita, MUITA, preguiça de muito papinho engajado que escuto por aí. Mas decidi que vou lutar para deixar de senti-lá. O centro, como disse o Abu, sempre tende a cair para a direita. E a direita, a meu ver, é a que luta para manter a ordem das coisas, ou simplesmente não mexe um dedo para mudá-las.

Sinceramente, eu não concordo com a ordem em que as coisas estão, e isso é uma certeza que tenho, pela definitiva falência de quase todas as capacidades e relações humanas, sejam elas artísticas, interpessoais e trabalhísticas, ou até com o próprio meio em que habitam, sua relação com o tempo, etc etc etc.

Minha predileção e aproximação com a esquerda condiz muito mais com suas vontades de mudança, do que necessáriamente com sua ideologia. Principalmente pois, por enquanto, e espero que seja por enquanto, ainda sou um analfabeto político, que desconhece quaisquer leituras de esquerda, sejam elas marxistas, stalinistas, maoístas, bakuninistas, e etc e etc, assim como por outro lado, também desconheço as leituras da direita.

Percebem como minha posição política é falha, trepidante e apesar de não ser destrutiva, tampouco é construtiva, para ambos os lados? Por isso que decidi me munir de informações válidas e reflexões para que eu possa me posicionar perante o momento histórico que vivo. Mesmo que seja para, em determinado momento, dizer que não concordo, não assino em baixo e estou caindo fora para um mundo só meu. Como, se pá, fez Baudelaire com as drogas, e Bilac com a punheta.



Ah, estive lendo um pouco de Beckett ontem, e o menino conseguiu tocar algumas feridas mais de baixo, impossíveis de serem desconsideradas. Feridas não, ferida. A ferida chamada ser humano e sua essência podre. A visão dele, ou a visão que tenho da visão dele, é a de pessimista pra caralho. E não pensando o pessimismo como negação de esperança, mas sim como constatação reflexiva de incapacidade de mudança.

Nos meus tempos na Irlanda, descobri e li muito mais ele do que o Joyce, que é o sujeito que eu saí do Brasil achando que ia desvendar. Haha, moleque imbecil.

A linguagem usada pelo Beckett em seus livros, era, para o meu inglês, uma linguagem que pelo menos eu acreditava estar entendendo. O Joyce, com excepção dos dublinenses, eu tinha a cruel impressão de estar lendo outra língua, que não as minhas, não os meus chãos. Não rolou.

Só que aí é que está. O Beckett apesar de parecer mais simples, é um labirinto metafísico do desespero. Não sei a de vocês, mas a minha imagem de um labirinto metafísico do desespero é bem ruim. E é exatamente neste espaço que Beckett coloca seus personagens, a meu ver, asqueirosos, decrépitos, precários e carentes.

Pelo que compreendi, esse desespero de uma condição humana essencialmente podre , para Beckett, não pode ser resolvida com soluções sociais, ou políticas. No que li dele, não encontrei traço algum de qualquer ideologia social, principalmente marxista, o que seria bem provável de ser encontrada, visto que tanto ele quanto sua obra figuram na Europa do séc XX.

Essa crítica pode parecer estar direcionada ao contéudo da sociedade, o Homem, e não a sua forma, o sistema político.

Mas eu, Léo, enxergo essa crítica como uma constatação de um ser humano vazio por consequencia do viver em um universo sem sentido, logo, uma crítica a uma forma muito mais abrangente, se não for a forma mais abrangente de todas. O universo, essa besteira.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Segundona


Coincidências ou confluências, o mundo é feito de. Só sei que foi assim, e agora estou aqui, com a cabeça cheia de idéias centradas num objetivo só. Objetivo que se desdobra em muitos, e que me obriga a pensar nele mais do que viver, por uns dias. Refletir em algo tão insólito, que só poderia ser tão insólito. Não consigo ser claro com vocês hoje.



E ae amigos.

Tomei um café e voltei mais calmo. To com alguns desenhos que quero colocar aqui, só que como estou em são paulo e minha câmera está em campinas e o scanner em Pinhal, bem, bem. Depois vou tentar usar o do escritório do meu irmão e pai, mas vou esperar o fim do expediente deles, quando já são bem poucas pessoas lá. Sinto que quando vou lá minha presença atrapalha o bom andamento da construção civil paulista. É só um sentimento.

Comecei a usar umas cores. É doido, eu nunca gostei, nunca tentei. Desde criança eu tenho uma certa aversão a lápis de cor. Esses dias encontrei alguns desenhos de quando eu era um pequeno bambino, e mesmo quando eu usava os lápis de cor, ou giz de cera, eu usava para desenhar, digo, sempre só de contornos.

Analiso que desde de criança eu já pressentia um vazio existencial no ser humano. Ou melhor, analiso que desde criança eu sabia que a revolução não se daria nos conteúdos, mas sim nas formas. Quer dizer, desde criança eu era um obcecado pelos limites das relações humanas, independentes de sentimentos internos e inconscietes.

Esse é o bom do passado. É possível significá-lo como bem quisermos. Claro que talvez não seja tão simples. Mas agora é tarde e já são duas as classes que me odeiam. Jornalistas e psicólogos.

E agora vou lá desenhar. Vou ouvir um Valete brow, que nunca quis ser regicida....
_Olá valete, HÃ, meu nome é Vanessa..

domingo, 27 de novembro de 2011

fim de fim de semana

quando estou aqui,


 essa não sai da orelha

doMINGo














Ainda é cedo. Não tão cedo, já que a legião da boa vontade não se incomodou de ligar para pedir uma doação. Clarice Lispector escrevia de manhã, penso quando desligo o telefone. Escrevia de manhã, mas vivia o resto do dia submersa em instrospectivos pensamentos que ainda nem tenho as moral, nem nunca vou ter. O telefone me desliga.

Acordo novamente, e ainda é cedo. Via mensagem, o celular me chama de puto e diz que minha amiga bebeu esta noite sozinha e escreveu uma carta. Me sinto mesmo um puto, e um puto inexpressivo. Tento lembrar a última carta que escrevi, e só o que consigo é lembrar de uma franja, de um cabelo encaracolado, e depois de um bem curto. Não curto o que sinto, mas já é tarde, porque ainda é cedo e o dia ainda é longo daqui pra frente. Bem longo.

Procurar coisas na casa do meu Irmão e do meu Pai, inclui sempre encontrar muita poeira, as velhas alergias e o olhar sanguinário do vigia no espelho. Mas as vezes gratifica e vale a pena. Como ontem, quando procurei a toalha mas achei uma caixa cheia de livros. Desde que voltei da Irlanda, ainda não encontrei nem metade dos meus livros, e, principalmente, pois não encontrei nem metade das pessoas que pegaram meus livros.

Lá, muito Jorge Amado. Uns 5. Grande Jorge Amado, como diziam lá em Portugal. No momento o Inspirador do Berro d'agua não caminha comigo. Desafinidades acontecem. Mas ainda não cheguei ao ponto de chamá-lo de Jorge Odiado. Hê. Jorge Indiferenteado, talvez. Indiferença é ruim?

Na caixa há também algum Drummond. Gosto dele. E há também o Braguinha. Ah Rubem, você sabe que eu não te procuro de verdade, nunca te procurei em livraria nenhuma, mas sempre acabamos por nos trombar. E é sempre do caralho trocar prosa contigo mano. Digo, crônicas.

Aliás, esses dias lembrei de você e do Sinezando. É que eu e o Mouro, apesar de estarmos sempre tentando abraçar a porra do mundo, ainda somos os reis do chororô, malditos cotovelos gastos, Lupcinio rodrigues e Reginaldo rossi de Barão Geraldo. E é inevitável não sintonizar as ondas de rádio com as suas e as do Sinezando.

Aê Sinezando, aquele salve em esperanto! A vida ainda é triste meu velho.

Ler Rubem Braga me faz ter vontade de conversar com meus avós. Me sinto mais a par do que aconteceu na época deles. Pra falar a verdade, eu sinto que realmente vivi na época deles. E eu devo ter vivido mesmo. Esses lances de reencarnação e pá. E eu era um cachorro. Sempre gostei de pensar que eu era um cachorro. E não é qualquer cachorro não, desses que ficam por aí latindo. Eu era o Deserto, cachorro da minha avó.

Antes de minha avó adoecer, ela me disse que queria voltar pra escola pra estudar. Semi analfabeta, ela conseguia escrever o próprio nome, e outras bem poucas coisas sabia ler. Foi se esquecendo paulatinamente do mundo, e o último nome que esquecera foi o meu. É o meu maior orgulho nesta vida. Fico pensando as vezes qual vai ser o último nome que vou me esquecer.

Ah, hoje pela tarde eu vejo o Mutarelli e o Rafa Coutinho de novo, desta vez com o Fábio Moon e o Gabriel Bá. Terminei o Daytripper dos meninos, mas depois falo melhor o que achei. O Lourenço vai estar lançando um álbum, depois de anos.

Tinha abandonado os quadrinhos faz uns 10 anos, pois além de estar descontente com um traço já formado, disse que estava incomodado em ditar todas as imagens de uma história. A literatura é um campo mais sugestivo e mais livre, da parte do leitor.

Porra, dez anos atrás eu tava assistindo pokemon.

Não tem nem o que falar. Como quadrinista, ele é de longe, tanto em forma quanto em conteúdo, meu preferido. Como escritor, tornou-se também, disparadamente, meu preferido. Pra mim, aquilo tudo é muito visceral e perigoso, ainda sendo muito sutil, uma espécie de loucura elegante, sei lá.

Só essa semana que percebi o porque de eu curtir tanto os trampos dele. Ao me mostrar possíveis maneira de se confluenciar média erudição literária e músical, literatura de rua, filosofia, humor negro e experimentalismos, ele me mostra caminhos que busco, ou que eu acho que busco.

Mas cansei de ficar puxando o saco desse careca feio. Tenta aparecer lá hoje, no centro cultural o barco. Momentos como esse não se perde. Fica ali na Teodoro e Sampaio, numa daquelas ruas que corta ela por baixo. Rá, Rua Jack Estripador.  E se me ver, me pague um café. E se tiver algum livro meu com você, devolve que agora eu tenho casa.

É porra, tenho uma casa agora. Por isso que eu to feliz. Por isso que até a velha discadora legionária da boa vontade me pareceu ser alguém legal e simpática. Claro, vocês me conhecem e sabem que vai passar. Essa velha, por exemplo, logo logo vai cair minha ficha de que ela é na verdade uma cuzona.

Bom, pelo menos vou conseguir assitir o Senhor Brasil tomando um café e comendo sucrilhos com argamassa quartzolit.





sábado, 26 de novembro de 2011

Um salve sabatino

Comecei este texto quando trombei o Armando e a Ana ontem na goma deles, aqui mesmo, em L.A, Largo do Arouche, região abissal paulista localizada entre a boca do lixo e a cracolândia, espaço prova empírica do refrão que diz que o homem é o lobo do homem.
Desde que eu voltei da Irlanda, ainda não tínhamos os três colocado o papo em dia e a água de nossas privadas mentais ainda estava em descompasso de hemisférios, sentido horário e anti horário, ativamente.

Ativamente, as pessoas que estão no rolê são pessoas que fazem com que tenhamos mais vontade de seguir no rolê.

Rolê. Isso, rolê. O abstrato conceito que engloba as esferas mais diversas, mas que inevitávelmente interseccionam-se em pontos base indefinidos, mas sempre sentidos pelos que nelas atuam.

Mano, depois de um bom tempo, é do caralho encontrar os dois e ver que transubstanciaram um cúbiculo no centro de São Paulo em um lar digníssimo, e ver que andam de long pelas caóticas ruas do centro, que a música boa é o pão de cada dia, e que o assunto sociológico e geográfico, do Cabeça e da Ana, respectivamente, perpassam e transcendem o ralo e fraco limite acadêmico.

Digo isso, pois saí de lá com um livro deles, As veias abertas da América Latina, do Eduardo Galeano. Disse Herman, o monstro, ontem, que esse é um livro que todos mundo tem a obrigação de ler. E agora pela manhã, depois de escovar os dentes com mais café ainda, já tenho essa certeza.

Além de não ter terminado o livro, e com a certeza da incapacidade de uma análise, mesmo que fraca, da obra, digo apenas que senti com o Galeano o sentimento que mais gosto e prezo de sentir nessa minha vida.

O Galeano me fez sentir o mesmo sentimento que senti com os dois ontem, que é o mesmo sentimento que sinto sempre com os meus grandes Mouro e Mari,  e sinto também com minha tríade preferida Dara, Lele e Mi, também com os notáveis Andread e Liniker, o saudoso Moita, também o eixo paulista Primão, Danilo e Plinião, e mais algumas outras poucas pessoas especiais e raras que conheço.

Nesta madrugada, o Galeano me fez sentir o sentimento de que quando eu o escuto, estou escutando coisas que possuem um corpo, certamente insuflado por uma voz de quem vive o que estuda. E é esse corpo (ou essa alma) que faz com que os dados e pesquisas, romances e poesias, letras e mais letras, lidas ou discutidas, não se tornem, como disse Bilac, esplendor e sepultura.

E além de muitos outros problemas, é por isso que, assim como toda a educação, a universidade precisa urgentemente ser repensada.

Essa incomunicabilidade reinante entre a Universidade e a sociedade, talvez não resida nos objetos de estudos, por mais metafísico que eles sejam, mas sim nos que estudam estes objetos.

Uma provável tangibilidade de idéias virá quando as pessoas começarem a se interessar também pelas pessoas, e não só com prazeres pessoais e benefícios vinculados a uma ascenção acadêmica. Os que carregam a vida acadêmica, como quem carrega um serviço num escritório, são pessoas que me fazem ter vontade de vomitar.

Poder-se-á formar um verdadeiro diálogo construtivo, no momento em que a produção de conhecimento deixar de ser uma produção, fugindo do que o que seu próprio nome intrinsicamente define, e desvinculando totalmente a noção de evolução e progresso de uma outra noção distinta, a de prosperidade econômica.

Essa distância de cabeça e coração precisa ser encurtada, estradas precisam urgentemente serem criadas. Estudo sem vida é a coisa mais desnecessária que já existiu no mundo. E não estou falando da incrível desnecessariedade poética de um Manoel de Barros, de um Paulo Leminski. Estou falando sim de uma imensa estúpidez egoísta e cega dos que, num país como sabemos ser o nosso, tem o privilégio de acesso ao estudo, mas insistem em não dar nem um ínfimo retorno a sociedade.

O processo de deixar que as coisas se manifestem por elas mesmas, é um processo que Heidegger define como fenomenologia, e depois complicadamente desenvolve e eu nada entendo. Mas, como aqui é um blog, e eu tenho a liberdade de dizer o que diabos eu quizer, bem, acredito que os sujeitos que não se divertem e não possuem um rolê de prazeres culturais, são exatamente os que não deixam que as coisas com que se ocupam se manifestem por elas mesmas. Ou seja, não deixam que o que estudam tenha vida.

E isso é tristíssimo. E mais triste é pensar que a culpa não é só deles. A culpa é principalmente de uma reitoria imbecil que proíbe festas e eventos culturais nos campus das universidades , que não entende que o diálogo deve perpassar cadeiras, salas de aula, professores e alunos. Reitoria que,não contente com isso, ainda apoia a militarização do campus e a terceirização dos serviços internos.

Claro, isso é reflexo de uma sociedade onde as politicagens apagam a alma das cidades e das pessoas, pensando cultura, arte e educação como meios eleitorais, e não como fins por si só, atividades existenciais.

Essa forma amarga como as coisas estão se dando nas universidades é um reflexo de um mundo cada vez mais chato e sem graça, um mundo que quando joga bola com outros mundos, leva a bola embora quando a mãe chama. Um mundo cuzão, eu diria. Um mundo que, não fosse a busca pelo sentimento que eu disse ter sentido com o Galeano, seria um mundo que cada vez menos eu faria questão.

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

sexta chata, domingo legal


A prefeitura de São Paulo prepara-se para varrer os viciados em crack em direção a suas cidades de origem.
''Existe um princípio de que cada comunidade é responsável pelo produto social que cria'', diz a nota do jornal.
Isso, isso, isso. Diz isso no meio da notícia e segue informando o que vai ser feito. Folha, Mônica Bergamo.
Irresponsável como quase sempre, o jornal cita isso sem apresentar fonte alguma, como se fosse um quote, como se fosse essas pré-adolescentes que citam o Caião, e minha Clarice no Facebook.
Essa ridícula lógica interna de colocar um pilar ornamentado e fálido para ofuscar a total falta de estrutura de um texto, um elefantezão branco usado pra esconder falácias e nos fazer abstrair a incoerência do que está sendo dito, que é uma frequente total falta de reflexão que já se tornou inerente aos textos jornalísticos, informando e não formando porra nenhuma de cidadãos.
Os claros textos são expressões de uma vontade de sempre aparentar neutralidade, objetividade, ética e clareza de idéias, quando na verdade, todos sabemos, tudo não passa de um jogo de interesses, em que o que é informado é o que é benéfico a quem patrocina, e a notícia é o conveniente aos coniventes com a situação.
Desacredito que exista uma reprodução textual fiel a realidade. Desacredito até que exista  uma realidade. Caso exista, é preciso que aceitemos como pressuposto a qualquer informação, ou melhor, a qualquer comunicação, a noção de que tudo o que possa ser redigido é uma leitura pessoal, evidentemente influenciada pelo momento histórico do indivíduo que comunica, sua formação, seu caráter, a camisa de sua empresa, religião, time, momento emocional, propina e saúde mental.
Eu mesmo, neste momento, por estar vivendo um momento de atos e greves ao meu redor, ando bastante pensando em atuações políticas, e esse texto é reflexo puro disto. Desde o começo estou deste lado daqui injetando intenções. É inevitável.
É como quando eu leio muito Kafka e começo a escrever textos desconfiados e ansiosos, ou Dostoievski, e fico asqueroso e simpático. Clarice, se pá, introspectivo e de olhar atento, Mutarelli, inconsequentemente doente e sóbrio, etc etc. Escrever é ser palco para diferentes grupos de teatro atuarem sobre você.
E deste repentino início de debate político,  sinto de leve a imensidão disto tudo, e a complexidade das ligações que existem neste sistema de governantes e governados.
Não sei até quando vou seguindo, na boa vontade, provavelmente utópica, de conseguir perceber e saber a partir de qual momento meus gestos são gestos políticos, e se são, qual o alcance, as consequências e responsabilidades disto.
Os crackeiros não perceberem que o que são e o que fazem é uma resposta a tudo o que está acontecendo nas cidades, eu ainda entendo. O que me preocupa é a forte impressão que tenho dos jornais, e dos políticos, também não perceberem isto. Nem isso nem muitas outras coisas.  Ou saberem e apenas empurrarem pra longe.
Gilberto Kassab com o quadro de volta para minha terra versão chupa lata compulsivo. Que domingo legal.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

sexta, quase 2

Ninado cantar de canções que já cairam em desuso, arranjemos guitarras possuídas e portas abertas após serem colocadas entre nozes, só para que relembrem longínquos natais de milnovescentos e doismilenove, fatídico ano que o papai noel foi assassinado na sala de jantar com um candelabro, pelo chinês sujo que acabara de receber sua saída livre da prisão na condição de cumprir um só objetivo de destruir o inimigo vermelho. Momento nada oportuno,  já que exatamente no mesmo ano, ao embarcar rumo ao mar, o mesmo sino descendente confundiu-se micromorfológicamente, e pois pé após impulso e outro pé, embarcou na barsa, e morreu afogado junto de centenas de verbetes que bem provavelmente, a partir deste momento, foram julgados e bulinados por versões sofisticadas via ondas e outras ondas, invisíveis ou não, em visíveis vontades de impor o novo.

sexta, quase

Um desenho escondido num bolso da mochila esquecido encontra mão desalenta. Faltavam-lhe os dedos na mão, os dedos dela. Hoje em dia é bem mais fácil sintonizar rádio na internet. A garota pensa que é bem mais difícil ouvir uma música quando se está ansiosa por uma mensagem subliminar, numa música que venha a ser dedicada, numa dedicatória semióticamente musicada. Um caminhão que partiu e não voltou para buscar a carga esquecida. Uma casa coberta apenas por brasilite, e uma perva que não aceita deitar num colchão cheio de pulgas. As pulgas que fugiram com o circo de soleil, e sempre pulam de alegria de ver um sorriso verdadeiro na oitava fileira, visão parcial, meia entrada, estudante. Um diário em folhas grossas costuradas palavras em imagens. Há mais vida em sofreguidão e sombrancelha colada.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

8 da quarta

Acordo com a lembrança de um velho texto chuvodoméstico, um que era sobre minha velha vontade de ler Dostoievsky. Passou-se um ano, mais ou menos desde então. Li as memórias do subsolo, tá, mas não, o que eu queria era o Idiota. Idiota sou eu. Ou melhor, idiota mais é quem faz as capas de qualquer edição da Martins Claret. É só eu ver qualquer iluminura ridícula daquelas que eu tenho vontade de vomitar. Talvez o mundo esteja abarrotado de imagens mesmo, e de ruídos, e de inconvenientes. Ou sou eu, que estou irritadiço. Na bula é o que dizia, irritadiço. Contrapesos, contrapontos. Contra ataque de uma mente que agora é estimulada para abstrair do mundo o mundo, criar outro mundo. Um mundo onde a especulação imobiliária será punida com tortura. Um mundo onde o tapa na cara será adotado como resposta legal a qualquer sujeito boa praça pela manhã. Um mundo onde o café não destrói aos poucos o estômago, nem apaga a alma. O mundo como vontade e representação tá caro demais. Já vi poetisas representarem sentimentos em excesso como cobertores envolvendo tudo. Estou com vontade de ver mais Hermes e Renato do que já assisti, escutar mais Raimundos do que já ouvi, só pra firmar a certeza de que o suprassumo da minha cultura é essencialmente estruturado pelo humor ridículo e descompromissado de desocupados. E assim como eles fizeram com a vida, as pessoas desocupam-se todos nas ultimas semanas do ano também, e logo querem viajar. Eu priorizo minha família, depois os que escutam todas as besteiras que eu falo durante o ano, e só depois os outros. Sinto falta de quando eu priorizava esses outros todos como se fosse amor, e cogitava mesmo mudar os planos para encontrá-los e fingir que algo lá de trás dá liga para o nada que existe agora. O mundo (não o que estou pra criar) tirou essa vontade de mim, e parece que não vai devolver tão cedo. Tudo bem, morrer de banzo eu não vou, pelo menos não hoje. Encontrei, por hora, a maga.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Meu amor por você chegou ao fim é tudo que tenho a dizer também não precisa sair assim espere o dia amanhecer

Itamar

domingo, 20 de novembro de 2011

Domingo

Tantas coisas acontecendo nesta vida curirinesca, que as vezes eu acho que nem é verdade. Mentira, invenção, calúnia, como diria o quércia. Cabeça, será, que vida? Ou será que não vida, de cabeça pra fora é cabelo duro e só, imaginação. Semanas que passadas, aí sim, vários momentos de bads trips, picos negativos na montanha russa de humor. Mas agora, bem, agora, é só essa sensação de será que tudo isso passou mesmo, ou ta passando pra depois passar. É sei lá.

No ápice das coisas ruins acontecendo, sei lá, uns 3, 4 dias seguidos há duas semanas atrás, coincidiram os momentos ruins com eu dormindo em sofás menores do que minha envergadura, pra madrugadas de rancores desproporcionalmente maiores do que minha candura. É, e num desses sofás, o pensamento que me deu mais medo, foi o pensamento que pensava que eu podia estar virando o Júnior, da Arte de Produzir Efeito sem Causa.

Mas passou, pelo menos por hora. Pensar que estamos virando o Júnior, já é um bom sinal de que não estamos virando o Júnior.  E por fim, no encontro com o gato que some e dessome da árvore listrado ele falou de um caminho errado, que por fim deve de ter sido bom, porque findou-se com eu ganhando uma bolsa pra um curso do Mutarelli.

Agora pouco cheguei numa das casas que me abriga o sono, e gastei metros de conversa com a Dara, contando coisas que o Mutarelli me fez flagrar, não só do sentido quadrinistico, mas do sentido de sentido de vida mesmo. E o que é foda, é que ele é um cara demente, de humor insólito e pretensões confusas, valores que não são nada bem quistos. E sem dar conselho nenhum, pelo jeito que ele caminhava com as palavras e decisões, encontrei coisas que eu nem sabia que eu procurava.

Pessoalmente, nossa conversa foi bem surreal. Um dia antes, num pós palestra de Augusto de Campos e Caetano, fui trocar uma idéia com o rapaz, que queimava um cigarro sozinho na calçada. Eu disse que tinha um presente, mas que não tinha, um tarot que vi em Dublin que o tema eram donas de casa Pin up girls, que lembrei na hora, pelo insolitez, mas que não comprei pela pobridez. Não lembro bem qual foi o gancho, mas a partir deste momento eu o ouvi falar bastante sobre palitos de dente sabor bacon.

E isso é foda, porque depois ele estava lá dentro, debulhando conceitos, fazendo piadas de humor negro, desenhando o traço que mais admiro no mundo, e encaixando tudo o que ele é e faz, com uma breve opinião sobre um trecho do Schopenhauer.

Não tou com muito saco para todas as outras premissas, inclusive, se é que elas foram ditas, não as lembro, mas a grande coisa que me valeu foi aprender o quão interessante é a esfera da significação, e como isso é decisivo na existência de algumas pessoas, no caso a minha, e mais ainda, neste momento, no caso. Casamento, de idéias, é raro.
Del carajo.

Bem, como não consegui explicar nada, falei, falei e não falei nada, agora vamos cada um pra sua própria
solidão dessa insustentável bobeira de ser.














Nada me faltará.

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

curibad

Por fim foi isso. Passo a passo, os passos descolando do chão. Terra, pessoas, e principalmente, gravidade deixada para trás. Não lembra se foi sua e quando foi a decisão de desrespeito contratual de sujeito com as leis físicas mundo. Aceita o peso da cruz de não ser afim mas ser anjo, voa logo de uma vez voo de asa irrevogável. Agora preso em solitária atmosfera, banho de sol diário, sorriso falso tatuado no rosto que vai contra a vontade pra cima da eterna lembrança dolorosa do toque de pés que não mais concretizar-se-á em concreto. Em concreto. Isso, e por fim foi.


quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Progressistas uni-vos

Progresso. É a palavra da vez, ou melhor, sempre foi. Econômico, isso, progresso econômico. Essa quase que absoluta noção de que o progresso econômico, doravante, gerará um progresso social, de saúde, educação e cultura. Essa idéia, muitas vezes impensada e só sentida, de que  progresso econômico não é um fim, mas um meio.

E até que ele chegue nesse hipotético fim, as outras instâncias da vida vão tendo suas pontas acertadas só nas pontas, varridas pra baixo do tapete.

É foda.

Num momento subsequente a revolução industrial, quando as pessoas começaram a ver que máquinas podiam fabricar máquinas, que pesquisas podiam descrever e resolver quase tudo, e que a ciência era a maior aliada que o homem talvez já tivesse trombado, bom, nesse momento, eu acho que era digno que existisse uma esperança no progresso.

Em meio ao século 19, pela primeira vez, pelo menos na literatura, digo, na ridícula parte que conheço dela, os escritores, como boas antenas de épocas que sempre são, começaram a perceber e mostrar que o progresso não era lá esse messias que veio pra nos salvar.  Dá pra ver num Aloísio, num Machado, num Augusto dos Anjos o nível que as coisas iam, e como, em geral, o progresso estava criando mais problemas do que estava resolvendo, com o contrapeso de que estava trazendo facilidades e confortos inimagináveis.

E claro, até esse contrapeso tem suas controvérsias, já que pouquíssimos são os que realmente usufluem destes benefícios.

Eu não sei se a culpa desse caos é da associação ciência-capital. Ou de valores egoístas gananciosos. Ou são maldições divinas, sobre a prole de uma eva que nunca teria imaginado que aquela maçã transmutaria-se anos depois num wi-fi, num bluetooth, em fibras óticas e o caralho.

Só sei que a história se repete, e mesmo após grandes guerras e grandes depressões econômicas e pessoais, as pessoas ainda apostam as fichas no progresso. Em breve, muito breve, aposto minhas fichas de que outras grandes guerras virão com suas grande depressões. Só que agora existem armas muito mais pesadas do que os rifles da primeira e os aviões da segunda.

Tô falando isso porque ontem no ônibus um senhor que desceu num dos bairros mais pobres de campinas, me disse com seu jornal que estava otimista do Brasil estar crescendo nos últimos anos e estar recebendo investimento estrangeiro pesado.

É foda.

É foda que eu pensei e escrevi tudo isso aqui, mas daqui a pouco já vou ter esquecido, pra pensar numa garota, pra pensar num quadrinho que quero fazer e pra pensar na necessidade de seguir caminhando quando tudo pede pra gente sentar e deitar com os bolsos na mão.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Feriado


A casa de meus pais agora tem tv a cabo. Quando eu era pequeno, esse era o sonho da minha vida: torrar as retinas com inacabáveis horas de desenhos e documentários sobre animais silvestres. Não deu, tive que me contentar com delimitadas e escassas horas matinais de desenhos de segunda mão, apresentados por alguma gostosa loira, e pela tarde, animais domésticos que aprendiam demasiadamente bem algum esporte. Silvestre só o Stallone que não parava de ajudar aqueles que, num próximo filme da franquia, ele iria matar.

Hoje fico contente de não ter tido televisão a cabo. Stallone Cobra dublado seria algo que eu sequer imaginaria o que é. Falcão, o campeão dos campeões, é outro que não estaria guardado aqui, no fundo do peito, embaixo de sete chaves. Eles eram os meus amigos numa infância esquisita. Eles e uns bonecos que eu tinha do Homem aranha, do Batman e do Wolverine. Não que eu não tivesse amigos, pelo contrário, até tinha muitos. É só que eu sempre gostava de sair antes das brincadeiras coletivas acabarem e vir pra casa ficar sozinho um pouco pra brincar.

Queria conseguir lembrar as histórias que eu inventava pros hominhos e pros meus desenhos. Eu lembro que eu desenhava o cenário em papel sulfite, cheio de armadilhas e passagens secretas, e espalhava pelo chão do quarto. O homem aranha sempre era o herói, o Batman o vilão e o Wolverine um cara que se redmia no último momento pra ajudar. Que besteira, todos sabem que o Wolverine não se redime, ele mata os caras que se redimem.

Só que essa reflexão do Wolverine é de agora. É minha vida de agora dando pitaco e interferindo na minha vida lá de trás. Memória seletiva, deve ser. Provavelmente criando ambientes agradáveis e saudosos nas lembrança, pra que eu possa voltar e me esconder quando preciso for. E sempre é preciso.

Agora quando eu volto pra Pinhal eu saio pras ruas chuventas de madrugada, volto sem nem mais ficar triste por não ter encontrado nada. Aliás, eu até gosto de encontrar nada. Ter sido criado numa cidade culturalmente vazia me fez sair daqui feito um louco atrás de palavras diferentes. Quando volto, me faz um bem sair de casa pra ver nada. É como se fosse um estudo de campo, depois de dois anos cursando filosofia.

sábado, 12 de novembro de 2011

Sabatino

Que o mundo não tem mudança, com isso eu não posso concordar. Nas histórias das cartas de tarot, seguidamente transmutação eu tiro. Transubstanciação, eu lembro. Viro a cabeça do avesso pra lembrouvir da voz que mais admiro que as ilegibilidades de agora gerarão legibilidades superiores de amanhã, o que me da uma paz de corpo, mas não de espiríto. Ando assim meio de lado pois não posso pesar mais do que meu corpo pode aguentar, e não posso concordar em aguentar só o meu peso e achar que é demais, e de quando em raro sentir só essa vontade de se sentir só. Ou posso, quando penso que posso só soltar de vez a mão do volante. Aceitar de vez que tenho um tempo pra acender o cigarro da garota ao meu lado, e assistir sua ansiosa espera do meio do tempocaminho, aquele que vem depois da necessidade da boca e antes da batida, pois sei que lá ela vai se levantar e me dizer como ser feliz. Mesmo sendo feliz.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Sexxxta

Se tá difícil de achar o que anime, não subestime o poder de dar um rolê ouvindo a love supreme...
Quem me disse foi a Lurdez, porra, foda. Hoje acordei com saudade por bosta de Dublin, e principalmente, do frio do caralho lá. Sabem como é, nunca contente. Lá eu queria calor, agora eu quero frio. Deixei um grande amigo lá, Joby-jobá. Ontem lembrei dele, quando assisti um documentário sobre Drogas e a quetamina foi considerada uma das mais perigosas do mundo. Porra, até conhecer o Joby eu nem sabia que esse nome existia. Só então conheci, já que a banda punk em que o menino toca gaita de fole utiliza tal graça. Ketamina, hehe. Graças ao Joby eu voltei a ouvir Ratos de Porão, DFC, e principalmente Raimundos. Porra, raimundos, que do caralho. Sinto as vezes um banzo de não ter nascido um pouco antes e ter visto o show dos caras e do Planet, não ter ido ouvir o que o Leminski tinha pra me falar, o que o Itamar tinha pra me cantar. No momento estou ansioso pra ver o Augusto de Campos semana que vem, sujeito que cada vez mais aprecio e admiro. Sei que as pessoas não são as obras, mas ainda sou muito apegado a esta coisa de matéria, corpo, unha, cabelo. Sinto que os livros, apesar de serem o suprassumo do intelecto de quem o escreveu naquele momento, ainda são muito vazios, falta alguma coisa. Ou eu é que não estou sabendo ver. Miopía de terceiro olho é doença mais comum no hoje em dia. Devo tê-la também com certeza.


     Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
     Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
     Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Tróia,
     assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
     um dia, o diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
     Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
     Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
     Rimbaud se mandou pra África,
Hemingway de miragens.
     Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
     Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.
 
 
P. Leminsky 

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

quarta feira

O calor tomou a cidade e deixou as pessoas fora de si. Surto de ensolação e transpiração de idéias. Idéias de merda. Todo mundo reclamando e distribuindo opiniões infundadas sobre ações políticas como a ocupação da USP e a greve por isonomia UNICAMPestre. Todo mundo opinando, todo mundo tomando uma lado nesta história, querendo mostrar que sabem se posicionar e tem uma decisão sóbria, mostrando que são inteligentes e, principalmente, estão ligadíssimos em tudo o que está acontecendo.
Na era da internet, informação chega pra todo mundo. Poucos mastigam e menos ainda são os que vomitam.
O problema, penso eu, é que pouca gente sabe o tamanho do buraco que resolveram dar pitaco. A maioria das pessoas que reclama da greve, nem sabe o que significa isonomia. Não estou querendo me engajar, pelo contrário. Com esses lances de vestibular e problemas pessoais amorosos, familiares e medicinais, estou vendo a greve de uma distância curta, mas que ainda é uma distância dos que atuam. Tanto que não quero falar nada dos problemas em si, quero só falar o que acho das pessoas.
Principalmente dos que gritam: Maconheiros, vagabundos.
É que de toda esta história, penso que esses aí são é os mais imbecis. Pois, quando questionados, sempre respondem que está tudo uma merda, que a corrupção é um demônio e que as pessoas são umas acomodadas. Mas quando alguém faz alguma coisa pra mudar, qualquer coisa que abale as estruturas e mostre que não estamos contentes, ou melhor, que estamos putos com a minoria lá de cima, bom, dae lá vem os imbecis retaliar e esmagar tudo, oprimindo os debates gerados da forma mais conservadora e escrota possível . E o que é mais estúpido, ultimamente, via facebook.
Não percebem que a discussão transcende problemas de maconha, e que há muito já está na esfera da legitíssima discussão sobre a liberdade.
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Hoje enquanto eu desenhava, graciosamente, eu cutucava minha orelha com um lápis. Quando eu percebi, sobre a mesa haviam um desenho foda de faroeste, meu estojo e um lápis sem ponta. E neste momento, talvez eu tenha alcançado uma sapiência de espírito: A greve, as ideologias, os problemas com as mulheres, com a família, os medos e anseios, são na verdade grandecíssimas bobagens quando, fincado no seu tímpano, existe uma ponta de lápis 4B praticamente impossível de ser retirada com os dedos, outros lápis e conectores de fones de ouvidos.
O post de hoje é em homenagem aos clipes de papel desentortados, que me salvaram desta e que, de tantas outras sei que ainda vão me salvar.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Segunda

Tempos assim nunca tive. Vejo o cigarro da minha vida queimando errado. Ponto cinza por ponto em brasa e nada há pra se fazer, a não ser continuar fumando. Ele vai queimar até apagar, trague eu ou não. Prefiro tragar. O ombro direito, o do bem. O canhoto, o sujeira. Um diz pra mim não me importar e seguir de cabeça baixa, rinoceronte bêbado passo adiante atrás de passo. O outro aumenta o volume do que estou ouvindo. É Itamar, aquela que diz que é fim de festa.  De fato já amanheceu, e eu não estou me importando de limpar a bagunça da festa sozinho. Tempos melhores virão, tempos que, daquele jeito que virão, nunca os tive.


Desimporta pra vocês

Vejo a fome batendo de frente com a preguiça de cozinhar. Me estranho com o fato de ler o jornal e não encontrar nenhuma nota sobre catástrofes mundiais causadas pela greve da gravidade que sinto no corpo. Me atenho ao fato de que quando me desenho, sempre deixo de fora metade das minhas orelhas. Escuto com carinho as pessoas pra prestar atenção na toada que falam e onde é que encaixam suas pausas. Desespero por acordar de madrugada e sentir que estou desesperado por não ter problemas. Sinto inveja dos filhotes de gato que mijam tranquilamente na minha mochila. Digito fingindo estar interessado nisso aqui, quando na verdade penso na garota lá. Desencano do meu alargador que quebrou e está preso no meu lóbulo fazem três anos. Aceito que minha sina é escrever textos ridículos cheios de coisas que só importam para mim, e olhe lá.

domingo, 6 de novembro de 2011

Dominguseira

Litros de café. Um catatau, e um catatau de coisas feitas. Um gibi mais engajado, um outro reflexivo, e um ótimo de putaria. Me sinto em casa, sensação perdida nos últimos tempos. Micropartes de músicas se repetindo e se repetindo em um processo de aprendizagem. Mas é o Mingus, isso eu sei. Charles Mingus, Pedrenrique, Plinião, Cortázar, Nanquim. Pensar que pouco tempo atrás eu não conhecia nenhum deles. Pensar que eu era feliz e não sabia. Hê.


sábado, 5 de novembro de 2011

Se pá que sábado

Cabeça minha de camaleão. Cor de atenção, depois cor de depressão, tons de euforia e por fim, divisão. Cansa. Virgínia com suas pedras amarradas caminhou devagar. Moisés, um pouco mais rápido. Justo. Eu, tenho a impressão muitas vezes de não estar caminhando. Ritmo de Dub. Eu antes de dormir envio uma mensagem pra dizer que durmi com a Maga esta noite, e pensar que eu pensei me perguntando se eu encontraria a Maga. De novo. Que pergunta. Eu até mostrei um bom disco pra ela, Roland Kirk, isso, de novo também. Ela só não trouxe seu corpo, não trouxe sua boca, não trouxe seus olhos de ciclope. Fujo pela madrugada de bicicleta e vou pra ocupação estudantil, pergunto se não precisam de alguns desenhos. Não há tempo dizem run curi run. Garota, remédios, garota. Cigarro? Resumo pra ela todos os livros do Mutarelli. É que ela tem medo dele. Pois sabe que eu gosto dele.  E sabe como eu sou. Aliás, sempre senti ciúmes da paixão doentia dela pelos silogismos. Vou deixando a calçada pra trás da calçada que estou. Sento, não disfarço e choro. Sinto aquela irreprimível saudade do tempo em que eu não precisava decidir entre ser um escritor e ser um homem. Naquele tempo eu só precisava decidir se eu assistia sessão da tarde ou cinema em casa.
















Falando em cinema em casa, quero uma casa pra chamar de minha. Uma casa com uma grama e um sofá afundável pra mim me jogar como quem joga um peso que carregou durante anos nas costas. Acordar e não precisar sair de casa. Uma casa onde as pessoas possam me procurar quando quiserem falar comigo. Merda, uma casa.
Estou aqui em Indaiatuba. Já vivi uma vida por aqui um tempo atrás. Amores, amigos, essas coisas. E agora que voltei, sinto como nunca uma impressão forte de que o mundo continua, independente de nós. E é isso mesmo, pode ter parecido pedante o que eu disse, mas minha visão curicênctrica tem que ser constantemente derrubada. Esqueço-me de que existe vida no que não está ao meu redor. Egoístas relações que relaciono com minha vontade de engolir tudo o que tem no mundo e ainda por cima apressadamente. Estar em todos os lugares. Quando eu tinha lá meus 12 anos, li um pedaço de um romance espírita da minha mãe, em que um rapaz morreu bem jovem, pois já tinha cumprido sua missão na terra. Gosto de significar este momento como o início da minha pressa e do meu desespero de fazer tudo ao mesmo tempo.







quarta-feira, 2 de novembro de 2011

finados

Gosto de musicas repetitivas, daquelas em que o discurso é reduzido ao mínimo e é feito de pequeninos elos que se revezam em sequência. Gosto também de mestres velhos senhores que acham todas as outras pessoas grandecíssimas idiotas. Gosto de desenhar garotas deitadas em suas camas, imaginando que elas estão escutando Chet Baker e pouco se importando para a realidade. Gosto de escutar Roland Kirk e pouco me importar para a realidade. Gosto de quadrinhos com cores inoportunas. Gosto de me imaginar presente nas histórias de infância dos que acabei de conhecer. Gosto de ser ausente nas minhas decisões mais importantes.