terça-feira, 25 de outubro de 2011

Terça de calor


Prestar vestibular. Que verbo imbecil, prestar. Voltei pra química orgânica, pro ciclo de Krebs, pro múltipla escolha, e principalmente para o gigabyte café. Mas não vou chorar as mágoas de um retrocesso, vou dizer apenas que eu talvez tenha flagrado um problema vetorial na educação brasileira. Claro, é só mais um problema de muitos, talvez uma pífia soluçãozinha.
Se você estiver com um saco bem sacudo, e com uma boa vontade de ler várias opiniões infundadas, siga para o próximo parágrafo. Caso não, siga para depois do grande espaço de linhas abaixo.
Bom, desde que eu era um pequeno curirim, lá estava eu, com minha bunda magra sentada nas cadeiras das escolas, ouvindo a história da literatura sendo contada de forma linear temporal, começando desde os trovadores, passando pelos árcades, românticos, realistas, simbolistas, parnasianos, modernistas e fim. 
Primeiro que essa divisão em escolas talvez seja uma biologização da coisa. Segundo que nunca nenhum professor meu tocou no assunto concretista, nem em nada contemporâneo nosso. E terceiro, e aqui é o que ando pensando, que essa cadeia estrutural ''necessária'' de ensino de literatura, talvez só vá nos cansando e colocando em nossas cabeças que os escritores são apenas produtos de um momento histórico, quando na verdade eles eram indivíduos com problemas existenciais fodidos, e que principalmente, foram influenciados e influenciaram diretamente outros escritores. 
Por um exemplo, conheci o Mutarelli e me vicei nos seus romances e quadrinhos Legal, mano. O que eu fiz depois foi procurar quem o influenciou. Descobri um Kafka, que é uma pancadaria em forma de livros. Descobri também um Machado, sujeito esquisito, obscuro, gigante. Descobri um Munch. Um pouco de um Sartre romancista, e etc, etc. E sempre, sempre, lendo com um puta tesão. 
Se mudassem totalmente o rumo das coisas, talvez as coisas funcionassem melhor. Em primeiro lugar, pois começaríamos sempre por ler aquilo que está sendo produzido, aquilo que não precisa ser tão contextualizado, pois está sendo vivido, está acontecendo e é uma leitura do nosso tempo. Segundo, pois existiria prazer o tempo todo. E pra mim, ler tem que ser prazeroso, tem que te fazer vibrar. E não sei vocês, mas eu, com essa minha atenção egoísta e seletiva, se não estiver lendo algo que me toque de verdade, nunca que aquilo vai me fazer refletir e me fazer ter vontade de fazer as coisas.
Sei lá também. Não manjo nada de pedagogia e não sei nada de crianças. Eu nem sei como conversar com esses pequenos gremilins. Entendo que cada aluno é muito diferente do outro, e que seriam preciso um cuidado muito grande e uma relação muito próxima de professor aluno, coisa que é impossível com essa cambada de alunos que é colocada em cada sala, e com esse salário rídiculo oferecido aos mestres. Mas é algo pra se pensar. 





Na verdade, eu não sei se educação literária é algo bom. Depois esses meninos passam uma linda tarde de calor sem sair de casa pra ficarem lendo Cortázar sozinhos, quando todo mundo está na piscina e eu não sei se isso é saudável.

Falou, falou.

4 comentários:

  1. Ou já li os seus 3 blogs,confesso que os outros eu olhava mas por ser seu amigo...fico com inveja dessa fome por leitura,queria eu ser assim,e tb com o fato e vc entreter com palavras alguem que não le um livro desde o ano passado....o elogio é de alguem que não sabe ler nem escrever,mas ta da ho0ra pra porra esse blog

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  2. Haha sei bem o que acontece com isso, me formei em licenciatura, história. O problema está na raiz, os textos de livros pedagógicos não trazem prazer nem aos alunos e nem aos professores, os meus melhores professores traziam texto de casa, se a gente vê a realidade dos professores de hoje, que dão mais de 10 aulas por dia, em salas com no minimo 40 alunos cada (excessão dos cursos partiulares) é humanamente impossível, dividir o tempo em viver e buscar metodos, textos, formas diferentes de despertar interesse nessa gente toda. Eu também não conhecia os gremilizinhos hah tinha até medo de dar aulas no estágio, mas meu, a 5ª série foi uma das melhores experiências da minha vida, eles querem aprender, são inquietos e quando vêem esses textos mortos, moldados, regras, seguir sequências de datas... sufoca, aí perdemos nosso material intelectual. Na 7ª série, pedir para interpretar 1 parágrafo é quase a morte para eles, não sai nada, você chega a ficar besta. É uma pena, assim a poesia vai perdendo a cor e só será entendida por poucos.
    Opa me empolguei haha

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  3. well... talvez o sartre nao estivesse tao errado

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