quarta-feira, 28 de março de 2012

Foi se o tempo da leveza. Abro os olhos, estou numa conversa. Não sei se fui eu quem disse ou ela. Ela é difícil de se conversar. Pra cada uma palavra que diz, sessenta estão subentendidas. Tem a outra, aquela que não diz nem camufla nada. Pra cada uma palavra que diz, a realidade toda converte-se em uma mão pesada, e dá me um tapa dos mais fortes. Os discos de vinil são roubados, ficaram neles os ouvidos dos donos antigos. Escuto todos os sons, mas perco sempre o silêncio. Despertar e desespero. Ela não disse um espero estar presente nos seus desejos quando se encontrar com outra. E isso é preocupante, mulheres tramam para nos prender a elas. Já elas não se prendem a nada que não lhes faça cogitar uma existência ausente de tédio. Diz me que sua vida é mais fácil pois vive de verdade, já que mesmo que a verdade acarrete pesos de consciência,  ainda assim é menos trabalhosa do que a necessidade de construir sobre si mesmo uma existência tão foda como aquela que você pode ter inventado para alguma garota te admirar e dormir pensando noite após o dia se o jeito que de se despedir é um símbolo representando todo o mundo que ela conhece. Todo o mundo ela conhece. E é assim, tão pequena e bonita. Seu sorriso me incentiva mais a viver do que qualquer livro de filosofia ou história em quadrinho de ritmo beatnick. Ela sabe o que eu quero, eu sei que ela finge que sabe.  Agora. São longuinho, são longuito, onde estão meus olhos? Ela me olha e eu passo de música. Ela me morde, diz que gosta de meninas, que está comigo mas que está pensando em outra. Despertar, apenas. Saio do quarto sem acordá-la e também seus planos. Em casa me sinto sempre inquieto. Antes de sair não calculo em quantas horas voltarei. Escuto um tiro. Ou só mais um barulho do bairro, talvez uma encruzilhada distante. Os traços mais falsos são capazes de impressionar a todos. Não é como um hologrâma, que para não ser apreciado precisa primeiro ser entendido. Ou simplesmente ser visto de caneca vazia. O café, solúvel ou não, é só um liquído para preencher o tédio. Seu valor consiste em invocar um cigarro, o último shamãn da civilização ocidental . É um momento. E neste momento, apenas, o relativo não me importa. Uma coisa é isso ou é isso, está certa ou está errada. Todos sabemos que a fumaça entra arregaçando com nossas células tão preciosas, e que o vício é um amor pela auto destruição. Ou deveríamos. Eu falo alto e só por isso já sou mais importante para ela do que o outro. Suas vaidades mais profundas. Responsabilidades compartilhadas por 2 pessoas capazes de distrair o tempo. Na imensidão das representações tenho apenas vontades. Tocar guitarra, pular na piscina e depois ainda dormir com essa garota. Até que você esqueça seu nome, e então finalmente está livre. Deixa de dizer em nome de,que no caso era você, e passa a dizer e só dizer. Aquilo que precisa ser dito. Como o fez Sabotagem. Foda-se Ferreira Gullar, e se o Nobel fosse algo significativo, Mauro Mateus seria sim o primeiro brasileiro a realmente merecê-lo. O que se faz e o que se fez são coisas diferentíssimas. O que eu fiz foi puxar forte e prender a poesia, para cair com ela num ônibus caindo aos pedaços, e então comprarmos juntos algum biscoitos de polvilho e uma boa cerveja em algum canto desprezado pela América latina.

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