sábado, 25 de fevereiro de 2012

sábado

Desde que eu era mais moleque do que sou, quando comecei a escrever, já estavam lá os fumantes interagindo nos contos que cheiravam urina do arouche com blues da praça roosevelt. Até em meus cadernos do ensino fundamental, meu desenho mais clássico, famoso e famigerado, o capitão novolin, o super herói mais bunda mole da história, lá estava ele fumando cigarro como um cretino ao invés de sentar a porrada em algum porra de criminoso, que provavelmente estaria fumando também.  Não sei se é influência, ou algum fator genético, mas desde que me lembro como gente apoiei o caubói marlboro nos momentos em que ele está no cavalo empinando e vendo o sol se pôr. E foda-se o resto de sua vida, não me importa. Como aquela vez em que a fumaça transfigurou-se num corpo, sentou-se na janela e me soprou no lustre até que eu me dissipasse. Eu quero parar de fumar, mas é o cigarro que me fuma, e sinto que ele está já para morrer de enfizema. Eu fumo pouquíssimo comparado com as pessoas que fumam, mas aprendi a fumar com uma pessoa foda. Me ensinou que aquilo tem a ver com momento, com o estar ali. E se tem uma coisa na vida que sou um bosta, é estar nos lugares que estou. Então meio que, inconscientemente, quando eu acendo um cigarro, eu dedico ao Bergson. Aos Mutarellianos: Diomedes, Agente, Paulo, Miguel, e Júnior, principalmente. E gosto de ir em lugares que as pessoas não se importam que fumem em seus estabelecimentos, como a cachaçaria, como o estúdio do Amilton. Lugares frequentados por pessoas que respeitam isso e não vão fazer uma denúncia anônima ao Kassab, e inconscientemente, ao ver um fumante, estão dedicando o copo de cerveja ao Thoreau. O cigarro, que junto do esqueiro, é o maior organizador de encontros inesperados, unificando brasa a brasa aqueles que pertencem a esta seita, a escória dos excluídos pelos politicamentes corretos, a corja dos mal quistos na sociedade da saúde e do ecologicamente correto. E se pela manhã, sozinho em casa, você encontra um cigarro avulso no bolso da bermuda, ao pensar que horas atrás a garota mais bonita da cidade pediu-lhe um cigarro no bar, e vocês não conversaram por ela ter seguido sua saga por tabaco, você nem chega a se entristecer, pois sabe que o deus cigarro é sábio e escreve certo por linhas de pólvora tortas.

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