domingo, 12 de fevereiro de 2012

Investigações negras 1

Nestas semanas, muitas coisas aconteceram. Desde um retorno meu a faculdade, até uma mudança de foco quanto a levada da vida.
Coisas que pra mim são muito claras, mas que para explicar escrevendo é bem difícil.
Essa própria dificuldade é algo novo pra mim.
Percebi que eu penso principalmente através de imagens. Não sei se posso expandir esse pensamento dizendo que todos nós fazemos isso, raciocinamos através de imagens. Sei só que funciona para mim.
São associações que faço entre pensamento e imagens: idéias ligadas a momentos, momentos que nunca sinto em forma de sentimentos, mas sim relembro através de imagens.
Músicas que escuto, e inevitávelmente relembro de um exato lugar. Idéias que, para relembrá-las, evoco imagens do lugar em que as pensei pela primeira vez.
Como por exemplo estas idéias que estou escrevendo agora: Dei-me conta disso pela primeira vez em dublin, ao ouvir o áudio de uma palestra sobre imagens, enquanto eu desenhava na mesa do quarto que dividia com a Mari.
Não tem a ver memória fotográfica. Eu nem sei o que é memória fotográfica direito.
Acontece é que não me lembro de detalhe algum do momento, apenas de um resumo imagético geral, uma rápida cena em que lembro apenas a posição geral do quarto , na terceira e última arrumação que fizémos, a cama ao lado da janela, a mesa na parte que tinha o carpete e não o azuleijo, e eu sentado nela.
Essa memória, agora já sei, tem a ver com meu interesse por aquele momento. Como o assunto me animou, meu cérebro achou modos de associá-lo a uma imagem para que depois eu pudesse usá-la de chão e então resgatar o raciocínio.
Foi como quando vi o Danilo tocando piano pela primeira vez. Aquele momento esteve tão presente naquele momento, que vez ou outra quando escuto algum pianista no fone de ouvido, imagino por imagens aquele momento, aquele piano preto, o banquinho, a mesa de professor que usei de banco para assistir, e o angulo mais ou menos exato em que eu via.
Acho que nosso intelecto apoia-se muito mais em imagens do que imaginamos. Mais até do que em palavras.
É isso: se pá que a experiência visual prescinde muitas vezes o pensamento.
Profundo?
Não sei. Só sei que eu só consigo pensar o conceito profundo, por já ter visto um poço, ou um penhasco, ou um buraco, sei lá.
E só sei que ando gostando da idéia de tentar fazer poesia com palavras que não remetem a imagens, palavras que não fiquem desenhando coisas em nossa cabeça.
Eu já desenho de lápis e nanquin, se pá que quero usar palavra pra outras coisas. Outras coisas daqui que não consigo desenhar. Sei lá. Usá-las para me referir as coisas que conheço de nome, mas não de imagem.
Como o Zimbábue por exemplo. Não me lembro de ter alguma imagem formada sobre o Zimbábue.
O Zimbabue é uma das coisas do mundo que ainda está livre dos meus preconceitos. Imagísticos que sejam.
Depois continuo. Estou gostando do assunto e já o devo ter registrado nas gavetas ocultas da cabeça: na mesa sentado de costas pra janela, bagunça de ressaca de formatura, vários colchões na sala e vários corpos babando e roncando em sono profundo.
Como um poço.

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