terça-feira, 15 de novembro de 2011

Feriado


A casa de meus pais agora tem tv a cabo. Quando eu era pequeno, esse era o sonho da minha vida: torrar as retinas com inacabáveis horas de desenhos e documentários sobre animais silvestres. Não deu, tive que me contentar com delimitadas e escassas horas matinais de desenhos de segunda mão, apresentados por alguma gostosa loira, e pela tarde, animais domésticos que aprendiam demasiadamente bem algum esporte. Silvestre só o Stallone que não parava de ajudar aqueles que, num próximo filme da franquia, ele iria matar.

Hoje fico contente de não ter tido televisão a cabo. Stallone Cobra dublado seria algo que eu sequer imaginaria o que é. Falcão, o campeão dos campeões, é outro que não estaria guardado aqui, no fundo do peito, embaixo de sete chaves. Eles eram os meus amigos numa infância esquisita. Eles e uns bonecos que eu tinha do Homem aranha, do Batman e do Wolverine. Não que eu não tivesse amigos, pelo contrário, até tinha muitos. É só que eu sempre gostava de sair antes das brincadeiras coletivas acabarem e vir pra casa ficar sozinho um pouco pra brincar.

Queria conseguir lembrar as histórias que eu inventava pros hominhos e pros meus desenhos. Eu lembro que eu desenhava o cenário em papel sulfite, cheio de armadilhas e passagens secretas, e espalhava pelo chão do quarto. O homem aranha sempre era o herói, o Batman o vilão e o Wolverine um cara que se redmia no último momento pra ajudar. Que besteira, todos sabem que o Wolverine não se redime, ele mata os caras que se redimem.

Só que essa reflexão do Wolverine é de agora. É minha vida de agora dando pitaco e interferindo na minha vida lá de trás. Memória seletiva, deve ser. Provavelmente criando ambientes agradáveis e saudosos nas lembrança, pra que eu possa voltar e me esconder quando preciso for. E sempre é preciso.

Agora quando eu volto pra Pinhal eu saio pras ruas chuventas de madrugada, volto sem nem mais ficar triste por não ter encontrado nada. Aliás, eu até gosto de encontrar nada. Ter sido criado numa cidade culturalmente vazia me fez sair daqui feito um louco atrás de palavras diferentes. Quando volto, me faz um bem sair de casa pra ver nada. É como se fosse um estudo de campo, depois de dois anos cursando filosofia.

Nenhum comentário:

Postar um comentário