sexta-feira, 25 de novembro de 2011

sexta chata, domingo legal


A prefeitura de São Paulo prepara-se para varrer os viciados em crack em direção a suas cidades de origem.
''Existe um princípio de que cada comunidade é responsável pelo produto social que cria'', diz a nota do jornal.
Isso, isso, isso. Diz isso no meio da notícia e segue informando o que vai ser feito. Folha, Mônica Bergamo.
Irresponsável como quase sempre, o jornal cita isso sem apresentar fonte alguma, como se fosse um quote, como se fosse essas pré-adolescentes que citam o Caião, e minha Clarice no Facebook.
Essa ridícula lógica interna de colocar um pilar ornamentado e fálido para ofuscar a total falta de estrutura de um texto, um elefantezão branco usado pra esconder falácias e nos fazer abstrair a incoerência do que está sendo dito, que é uma frequente total falta de reflexão que já se tornou inerente aos textos jornalísticos, informando e não formando porra nenhuma de cidadãos.
Os claros textos são expressões de uma vontade de sempre aparentar neutralidade, objetividade, ética e clareza de idéias, quando na verdade, todos sabemos, tudo não passa de um jogo de interesses, em que o que é informado é o que é benéfico a quem patrocina, e a notícia é o conveniente aos coniventes com a situação.
Desacredito que exista uma reprodução textual fiel a realidade. Desacredito até que exista  uma realidade. Caso exista, é preciso que aceitemos como pressuposto a qualquer informação, ou melhor, a qualquer comunicação, a noção de que tudo o que possa ser redigido é uma leitura pessoal, evidentemente influenciada pelo momento histórico do indivíduo que comunica, sua formação, seu caráter, a camisa de sua empresa, religião, time, momento emocional, propina e saúde mental.
Eu mesmo, neste momento, por estar vivendo um momento de atos e greves ao meu redor, ando bastante pensando em atuações políticas, e esse texto é reflexo puro disto. Desde o começo estou deste lado daqui injetando intenções. É inevitável.
É como quando eu leio muito Kafka e começo a escrever textos desconfiados e ansiosos, ou Dostoievski, e fico asqueroso e simpático. Clarice, se pá, introspectivo e de olhar atento, Mutarelli, inconsequentemente doente e sóbrio, etc etc. Escrever é ser palco para diferentes grupos de teatro atuarem sobre você.
E deste repentino início de debate político,  sinto de leve a imensidão disto tudo, e a complexidade das ligações que existem neste sistema de governantes e governados.
Não sei até quando vou seguindo, na boa vontade, provavelmente utópica, de conseguir perceber e saber a partir de qual momento meus gestos são gestos políticos, e se são, qual o alcance, as consequências e responsabilidades disto.
Os crackeiros não perceberem que o que são e o que fazem é uma resposta a tudo o que está acontecendo nas cidades, eu ainda entendo. O que me preocupa é a forte impressão que tenho dos jornais, e dos políticos, também não perceberem isto. Nem isso nem muitas outras coisas.  Ou saberem e apenas empurrarem pra longe.
Gilberto Kassab com o quadro de volta para minha terra versão chupa lata compulsivo. Que domingo legal.

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