terça-feira, 29 de novembro de 2011

Terça feira

Acordar de manhã sem que meu corpo me acompanhe virou minha rotina. Cabeça a mil, começo a estudar as paradas tentando ignorar que estou carregando comigo um corpo semi vegetativo. Melhor assim, nos momentos ruins que tive, a cabeça acompanhava-me na sofreguidão.
Quem sabe eu não faço um esporte essas férias, e viro um cara saudável e no fim do ano que vem eu aviso aqui pra vocês irem me assistir na São Silvestre?

Há. Tá. São silvestre sempre vai ser pra mim uma corridinha de merda, principalmente por usar em vão o nome de São Silvestre, que é uma versão tupiniquim de St. Silvester, o santo das batalhas de boxe e guerras quiçá impossíveis, aquele que consegue sintetizar sabedoria pura em pequeninas frases de efeito como ''Ora, Micky dizia que a luta só acabava ao soar do gongo. Ainda não ouvimos o gongo, certo?” Ah, mano, dia após dia eu acredito, tenho fé e oro para Micky, pois sei que ele representa Deus.


Ainda em São Paulo, percebi que não vi muita gente que eu queria ter visto por aqui. Mas que vi muita coisa que não queria ter visto. Briga de garrafas num bar, ratos passando em mendigos que dormem, nóias com seus cachimbos e etc etc.

Puta que merda. Eu queria não ter visto, e o mais foda é isso. Não consigo formular um juízo a respeito da minha vontade de não querer ver. Foda, esse virar de rosto se desdobra em diversas consequências, que condizem as diversas decisões de aceitar ou não minhas responsabilidades como cidadão e as minhas impotências como ser humano.

Esses assuntos e posturas são sempre mais fáceis de serem deixados de lado, e quando são colocados em pauta, são dificílimos de serem domados para que não se pareçam com engajamento vazio, adequação revolucionária a uma fase de firmação de caráter, e, principalmente, discursinho de miss universo.

Apesar de muita gente vir me dizer que o dualismo ''capitalismo versus comunismo'' já não existe mais, que o muro de berlim caiu, o capital venceu e eu estou aqui  de chapéu atolado falando sobre coisas que desimportam no momento, bem, eu acho que essa discussão ainda é atualíssima e válida, principalmente se pensarmos que essa nunca foi uma batalha do ''casos de família com a Márcia Goldshimit''. Existem sim os ataques, mas sempre estruturados por soluções e propostas bem fundadas.

Eu sou um chato. E isso é tudo que sei a priori. Eu sinto muita, MUITA, preguiça de muito papinho engajado que escuto por aí. Mas decidi que vou lutar para deixar de senti-lá. O centro, como disse o Abu, sempre tende a cair para a direita. E a direita, a meu ver, é a que luta para manter a ordem das coisas, ou simplesmente não mexe um dedo para mudá-las.

Sinceramente, eu não concordo com a ordem em que as coisas estão, e isso é uma certeza que tenho, pela definitiva falência de quase todas as capacidades e relações humanas, sejam elas artísticas, interpessoais e trabalhísticas, ou até com o próprio meio em que habitam, sua relação com o tempo, etc etc etc.

Minha predileção e aproximação com a esquerda condiz muito mais com suas vontades de mudança, do que necessáriamente com sua ideologia. Principalmente pois, por enquanto, e espero que seja por enquanto, ainda sou um analfabeto político, que desconhece quaisquer leituras de esquerda, sejam elas marxistas, stalinistas, maoístas, bakuninistas, e etc e etc, assim como por outro lado, também desconheço as leituras da direita.

Percebem como minha posição política é falha, trepidante e apesar de não ser destrutiva, tampouco é construtiva, para ambos os lados? Por isso que decidi me munir de informações válidas e reflexões para que eu possa me posicionar perante o momento histórico que vivo. Mesmo que seja para, em determinado momento, dizer que não concordo, não assino em baixo e estou caindo fora para um mundo só meu. Como, se pá, fez Baudelaire com as drogas, e Bilac com a punheta.



Ah, estive lendo um pouco de Beckett ontem, e o menino conseguiu tocar algumas feridas mais de baixo, impossíveis de serem desconsideradas. Feridas não, ferida. A ferida chamada ser humano e sua essência podre. A visão dele, ou a visão que tenho da visão dele, é a de pessimista pra caralho. E não pensando o pessimismo como negação de esperança, mas sim como constatação reflexiva de incapacidade de mudança.

Nos meus tempos na Irlanda, descobri e li muito mais ele do que o Joyce, que é o sujeito que eu saí do Brasil achando que ia desvendar. Haha, moleque imbecil.

A linguagem usada pelo Beckett em seus livros, era, para o meu inglês, uma linguagem que pelo menos eu acreditava estar entendendo. O Joyce, com excepção dos dublinenses, eu tinha a cruel impressão de estar lendo outra língua, que não as minhas, não os meus chãos. Não rolou.

Só que aí é que está. O Beckett apesar de parecer mais simples, é um labirinto metafísico do desespero. Não sei a de vocês, mas a minha imagem de um labirinto metafísico do desespero é bem ruim. E é exatamente neste espaço que Beckett coloca seus personagens, a meu ver, asqueirosos, decrépitos, precários e carentes.

Pelo que compreendi, esse desespero de uma condição humana essencialmente podre , para Beckett, não pode ser resolvida com soluções sociais, ou políticas. No que li dele, não encontrei traço algum de qualquer ideologia social, principalmente marxista, o que seria bem provável de ser encontrada, visto que tanto ele quanto sua obra figuram na Europa do séc XX.

Essa crítica pode parecer estar direcionada ao contéudo da sociedade, o Homem, e não a sua forma, o sistema político.

Mas eu, Léo, enxergo essa crítica como uma constatação de um ser humano vazio por consequencia do viver em um universo sem sentido, logo, uma crítica a uma forma muito mais abrangente, se não for a forma mais abrangente de todas. O universo, essa besteira.

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