sábado, 24 de dezembro de 2011

Sabado cedo

pinhal é uma cidade atípica.
uma só sala de um só cinema numa praça cercada de morros.
dois bares: o do clube, que acredita ser um lugar para elite, e a cachaçaria, que acredita ser um lugar para os alternativos.
prefiro a cachaçaria por ser mais várzea, poder fumar lá dentro e pela música.
enquanto que no clube eles variam entre duplas sertanejas e djs sem limites de volumes, na cachaçaria tocam uns sambas e, mesmo não sendo os meus preferidos, lá pelo menos eu não fico conversando com uma metade do cerebro enquanto a outra manda as duplas e os djs tomarem na beira dos cus.
na cachaçaria, não só ontem, como em toda essa semana, o velho pensamento nocivo mostrou-se presente, a antiga e boa convicção de que o alcool torna tudo mais legal.
o que seria um barzinho de colocar o papo em dia tornou-se a dialética das gerações, os velhos sambistas de roda com seus violões de corda puchada, triângulo, saleirinhos, caixinhas de fósforo e velhas melodias, contra jovens alcoolizados com altíssimos bongôs, violões palhetados de blues, reggae e rap, e ridículos coros incoerentes gritados em primeiro plano, na disposição de ficar sem voz só pra incomodar a classe artística dominante.
hoje cedo pensei que os senhores e senhoras vencidos ficarão remoendo mágoas durante um bom tempo, e que talvez deveríamos tê-los respeitado ao invés de ficar cascando o bico com versões de ventania boladas com músicas de igreja e com a cara de desacreditado deles.
mas na real não. precisávamos antes de tudo nos respeitar.
respeitar que somos jovens, que não nos importamos com mitos, tabus, conveniências familiares e sociais, nem com o meio ambiente.
respeitar que o mundo é uma piada, que a seriedade é uma coisa chata, e que só através do descompromisso atingiremos camadas mais profundas de consciência.
juro que acredito nisso, do descompromisso acessando o inconsciente (coletivo).
aprendemos com seus erros, seus velhos e velhas, e se tem uma coisa que não queremos, pelo menos eu e pelo menos meus amigos, é ter uma sociedade igual a suas, que talvez seja sim culpa suas, seus rabugentos coniventes da seriedade e capitalização da vida.
feliz natal.

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