sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Sexta de novo

Hoje tenho tempo pra vocês.
É, meus amigos, vive em fim de ano um curirico cheio de coisas. Parece que foi eu sair do facebook pra minha vida virar um vórtice de coisas interessantes. Não querendo influenciar ninguém, claro.
Encontrei uns testamentos meus ontem. Desde os 15 anos eu escrevo todo fim de ano um testamento. Como eu nunca tive bens, lá eu só escrevia o que achava da minha vida atual, minhas perspectivas, etc etc.
E hoje cedo joguei todos fora, decidi também que não vou prosseguir neste rolê natalino que tem um pé de mórbido.
Não sei direito, é como se aquilo tudo não fizesse mais sentido pra mim.
Na póstuma faculdade de filosofia, quando estudamos o Hume, eu vi o sujeito dizer que uma das muitas falhas crenças humanas, é a de acreditar que existe uma unidade pessoal, no caso, acreditar que esse amálgama de emoções, memórias e planos que temos pode ser chamado de espírito, de unidade pessoal, de eu.
Neste processo lógico, a parte em falta é aquela que deveria fazer a ligação entre, turbilhão de sentimentos e lembranças repetitivas, logo, eu.
Falha agravada por uma deficiência nossa em prestar real atenção a vida, e também nossa mania de selecionar e moldar lembranças.
Se fossemos como o saudoso (realmente saudoso) Funes, personagem do Borges do conto Funes ou a Memória, e tivéssemos sua plena capacidade de atenção na realidade, e total capacidade de relembrar o que se passou, veríamos que não faz sentido chamar de cachorro, aquele ser que latiu para nós as 3 e 30, e também chamar de cachorro aquele mesmo ser das 3 e 31, que já não está latindo, que está também um pouco mais perfilado, perdeu alguns poucos pêlos e milhares de células, fede mais e mudou seu olhar.
É, o Hume seria um grande lutador de Ufc, ele era muito bom em destruir as coisas.
Ele e o Borges fariam uma das lutas do século, com toda a certeza.
Não sei o quanto é possível aceitar isso, uma não personificação do eu, e qual a expansão que tal contestação de subjetividade pode atingir em nossas vidas.
No meu caso, atingiu o de não escrever uma vez por ano em um papel específico aquilo que eu acho ser.
Aquilo que eu acho ser é isso aqui. Textos e poesias, desenhos e resmungos.
Talvez eles digam o que eu acho ser, pelo menos naquele dia específico, talvez naquelas semanas.
Agora, depois de relutar muito, aceito que sou um cara com uma doentia necessidade de expressão.
Detesto pessoas com doentias necessidades de expressão, abordando outros sujeitos nos bares e telefones com papos furados.
É por isso que escrevo aqui, num ponto fixo onde vem ler quem quiser, e quem não quiser nem volta.
Dos poucos filmes que gosto, um deles é my blueberry nights. Quando criança, sua mãe lhe dizia para, caso se perdesse, não sair do lugar para que ela pudesse encontrá-lo.
É mais ou menos isso. Faz uns anos que comecei a me perder no mundo, e por incrível que pareça ainda estou aqui, caso me procurem.
E é essa doentia necessidade de expressão, por enquanto é o que faz minhas poesias e desenhos serem fracos.
Enquanto eu não conseguir me distanciar um mínimo daquilo que faço, não serei realmente capaz de produzir algo com corpo.
Quando for possível eu não escrever, e ainda assim eu o fazer, aí sim mano, aí eu quero ver.
Feliz nidal pra vocês.

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